Tuesday, May 20, 2008

Wallaby Ripstiking and Kiting Ranch

Já há muitos anos eu alimentava o desejo de aprender a voar rebocado, mas ao mesmo tempo que eu tinha muito interesse em aprender, eu também achava a idéia de amarrar uma asa-delta num avião uma coisa meio arriscada demais...

Porém, como várias vezes acontece ao longo do aprendizado do vôo-livre, e, por que não dizer, também como na vida, muitas vezes as coisas não são tão perigosas quanto parecem ser. É só mais uma etapa que temos que vencer. Então irei descrever neste post, a viagem que fiz para a Florida a fim de finalmente aprender a voar rebocado.

Aproveitando uma brecha em meu calendário, que coincidia com o calendário de outros pilotos brasileiros que também estavam indo para lá, contando que Maio é tradicionalmente o melhor mês de condição para vôos de XC na Florida, somando a isto o fato de que o Mike Barber estava disponível para fazer mais um pouco de instrução avançada, enfim, tudo apontava para uma viagem perfeita. É... mas só faltou mesmo foi combinar certinho com a meteorologia, porque realmente uma frente fria estacionária na Florida atrapalhou a primeira parte da viagem.

Na verdade, o único dia em que as condições de vôo estavam razoáveis no Wallaby foi o primeiro dia após minha chegada. Logo de manhã, ainda sonolento, fui fazer um vôo duplo rebocado, pilotado pelo Malcolm, dono do Wallaby. O vôo foi legal, achei muito interessante a experiência de decolar do chão e pousar deitado nas rodinhas da própria asa. Sim, porquê as asas de duplo têm um sistema de duas rodas na barra e uma roda numa adaptação na quilha, que permitem que ela decole rebocada sem precisar apoiar num carrinho, e que ela pouse em seu próprio trem de pouso.

Mas sabia eu que aquele seria o único momento em que eu tiraria os pés do chão no Wallaby. O vento naquele dia mesmo já começou a soprar mais forte e nos próximos 5 dias o tempo não mudou, ventania forte desde cedo, às vezes com névoa baixa pela manhã, às vezes com chuva. Como o Malcolm é muito conservador, a regra para iniciantes no reboque é que não sejam feitas decolagens com vento acima de 10 mph.

Sendo assim fui deixando o tempo passar. Mike sugeriu que caso a previsão não melhorasse talvez a gente pudesse ir para o Tenessee voar em Lookout Mountain. Mas como isso envolveria refazer minhas malas, viajar 10 horas de carro, mudar o planejamento dos vôos, etc, acabamos adiando esta hipótese. Talvez se tivéssemos encarado a realidade mais cedo eu teria aproveitado mais vôos no Tenessee, para onde acabamos indo no final das contas.


Enquanto isso eu me distraía aprendendo novas habilidades. No Wallaby Ranch há várias unidades do skate ripstik de duas rodas, que é um skate meio maluco, com uma conexão entre o pé da frente e o de trás que permite que as superfícies "torçam" uma em relação à outra, e isso, aliado às rodas livres faz com que ele se movimente com muita liberdade e dá uma sensação interessante, parecida com estar surfando mesmo, com os movimentos de "batida" muito livres e um "jogo" na hora de fazer as curvas, excepcional. Bem, depois de 4 dias ralando em cima dos ripstiks eu já estava fazendo percursos longos pela estrada interna de asfalto do Wallaby. Usava então o skate como parte de uma rotina diária de malhação, primeiro eu fazia dois percursos de skate até o portão do Wallaby e voltava e depois eu dava uma corrida pelo gramado e usava os carrinhos de reboque como suporte para flexões de braço, uma traves de futebol como barra de exercícios e por aí eu ia, passando meu tempo. Queria ter comprado um ripstick para usar no Brasil mas acabei deixando para comprar no free-shop, pois era muito pesado para ficar carregando. Quando finalmente cheguei no free-shop o ripstik que custava USD 94 estava sendo oferecido por USD 250! Aí não deu mesmo...

Dois dias antes de resolvermos partir para o Tenessee, Konrado e os Vils Brothers também chegaram em Orlando para voar. Os Vils estavam com outros compromissos turísticos e quando viram que não ia dar vôo forma fazer outras coisas. Eu estava ficando maluco depois de 5 dias assisitindo à grama do Wallaby crescer, e quando o Konrado chegou ele começou a botar pilha dizendo que tinha trazido equipamento de kite e que a gente devia aproveitar o vento forte e ir velejar em algum lugar. Eu estava ficando obcecado em esperar o tempo melhorar, e, nervoso porque a viagem estava passando e eu não estava fazendo nada do que havia planejado, hesitava em deixar o Wallaby e depois ficar sabendo que o vento parara no final da tarde e que teria dado para voar se eu tivesse ficado. Mesmo assim a previsão era de vento forte e acabei topando ir caçar algum velejo com o Konrado.

Mike nos emprestou seu carro de resgate para que pudéssemos dirigir até um pico de velejo chamado St. Petersburg. O carro do Mike merecia um post em separado. Uma Toyotinha sedan, década de 80 ou 90, comprado por USD 300,00 e com outros USD 500,00 gastos em reforma, o carro era um fenômeno. Todo ferrado, pintura desbotada, lotado de lixo, sem A/C e com a ventoinha do radiador quebrada, o que nos obrigava a manter o carro em permanente movimento para não ferver! A ordem era não pegar engarrafamento de jeito nenhum! Mas o mais incrível era que o carro rodava muito bem e nos foi de grande utilidade pelos próximos dois dias. Pena que não tirei uma foto da caranga!

Para maltratar ainda mais minhas esperanças meteorológicas, após dirigirmos cerca de 3 horas entre o Wallaby e St. Petersburg, descobrimos que a passagem de um temporal havia matado o vento na costa e ficamos sentados no carro assistindo o vento oscilar entre fraco e muito fraco por umas 2 horas e meia, depois de percorrer todas as prais do pico procurando uma condição melhor. Finalmente no final de tarde, resolvemos seguir um velejador local e dar um bordo numa das praias onde o vento entrava bem de frente. Como a maior pipa do Konrado era tamanho 12, não conseguimos praticamente nada. Aliás só deu para o Konrado dar um velejo safado onde ele mal conseguiu planar algumas poucas vezes. O vento empurrando de volta para a praia não ajudava nada, pois no que ele tentava arribar para pegar velocidade, ou jogar o kite para ganhar power, já estavaa de volta no raso demais. O velejador local, com uma pipa 16 conseguiu dar um velejo social. Nesta foto vemos o Konrado em primeiro plano e Tom, o velejador americano planando atrás. A pipa verde que aparece na foto é a do Tom que aparece velejando mais atrás. Reparem como o vento está fraco. Enquanto isso no Wallaby, o vento continuava roncando.


Bem, diante desse vento frouxo eu nem entrei na água e agora era entrar no carro para dirigir 3 horas de volta. Paramos no Subway para mandar um sanduíchão de 6 dólares. O Subway foi o grande responsável pela nutrição da equipe de kite e asa!


No dia seguinte o vento estava mais forte ainda. A galera estava mais fissurada ainda em arrumar alguma coisa para fazer. Dessa vez queríamos evitar dirigir até o oceano e começamos a estudar os mapas dos lagos próximos ao Wallaby para determinar um que estivesse bom para vento Oeste. Com a ajuda do Mike resolvemos que Clermont Lake seria uma boa opção, a apenas 40 minutos do Wallaby.

Ao chegarmos em Clermont realmente parecia que tínhamos acertado na pedida. O lago estava coberto de carneirinhos. Parecia Araruama em dia forte. Começamos a rodar em volta do lago procurando um ponto onde desse para montar o kite e entrar com segurança. O problema era que as praias eram estreitas, a sinalização em volta do lago falava que era proibido nadar no lago, devido a buracos fundos existentes logo depois da margem, a água era muito marrom para ver o fundo, a princípio há jacarés em todos os lagos da Florida e ainda por cima o vento estava forte até demais.

Acabamos optando por uma praia em uma das margens, onde a vegetação tinha acabado de ser cortada. Montamos a pipa 10 e ficamos analisando as condições. O problema era que onde a vegetação fôra cortada havia ficado uns cotocos que espetavam o pé para valer. O vento ali na beira também entrava rotorizado pela vegetação e prédios da beira. Como entrar com o kite no ar, com tanto vento, pisando nos cotocos? A solução seria ir de chinelo até o ponto em que daria para pisar na areia e abandonar o chinelo por lá mesmo. Ficamos esperando para ver se o vento dava uma aliviada mas eram 14:30 e até às 15:00hs o vento aumentou ainda mais. Acho que no meio do lago a velocidade seria próxima a 25 kt. Eu nunca tinha velejado de kite com tanto vento. A chegada de um velejador de windsurf, melhorou nosso nível de informação sobre o local. Ele explicou que era tranquilo, fundo de areia e que não tinha muitos jacarés e os que tinham eram pequenos... bem, antes assim...

Konrado resolveu o problema de quem seria a cobaia argumentando que, como eu era mais pesado, eu deveria ir primeiro! Muy amigo! Bem depois de esperar e esperar e diante da perspectiva de mais uma vez voltar ao Wallaby com as mãos abanando eu fiquei mucho macho e falei que eu ia. Konrado decolou a pipa e lá fui eu, tentando controlar a pipa que oscilava com força no vento rajado da beira.

Quando entrei no lago, a água era bem morninha, mas, sendo doce, não flutuava muito, enquanto não me livrei da sombra de vento da margem não consguia dar o water-start e comecei a perder altura. Felizmente não demorou muito até entrar no vento limpo e quando coloquei a pipa para baixo tomei logo um catranco poderoso. Bem, ao menos eu estava velejando. Na verdade eu estava meio voando e meio velejando, porque assim que me aproximei do meio do lago o vento estava realmente over e tinha que fazer força com a borda da prancha para não perder o controle e ser arrastado. Mesmo assim fui arrastado uma porção de vezes. Em algumas delas a pipa caiu na água e me deu algum trabalho para recuperar. Na pior delas eu fui literalmente suspenso para fora da água, dando um salto involuntário e arremessado longe, de costas sem nem entender o que estava acontecendo. É lógico que a cada vez que eu era arrastado, eu perdia muita altura e a perspectiva de orçar de volta para o local de largada tornava-se mais exígua. Num desses arremessos a pranchinha voltou na minha canela com vontade e tomei uma porrada tão forte que fez um corte na canela. Voltei a pensar nos jacarés e achei melhor esquecer a pancada e tratar de sair dali.

Aos poucos fui dominando melhor o kite e me acostumando com o setup do Konrado. Com isso melhorou meu rendimento na orça e comecei a me aproximar mais do ponto de largada. O windsurfista também estava voando ali por perto e fizemos uns pegas alucinantes no meio do lago! O problema era que, ao me aproximar para tentar voltar à praia, eu entrava na zona de turbulência e o kite parava de andar. A solução natural seria ir ganhar altura do outro lado e entrar bem orçado por cima e arribar de volta à praia. O problema era que, devido ao outro lado do lago também ser sombreado de vento, quando eu chegava lá o vento também dava uma morrida. Assim sobrava o espaço do meio para tentar orçar, com muito vento demais e arrastadas ocasionais.

Foi numa das tentativas de aproximação com a praia que tive um problema mais sério, o vento subitamente parou numa turbulência e o kite caiu do céu verticalmente. Quando o vento voltou a inflar o kite, este deu uma cambalhota e inflou de novo, só que agora com as linhas invertidas: as de trás estavam passando pela frente e voltando por trás e vice-versa. Bem, é meio difícil de tentar explicar, mas o fato é que o que já era difícil de controlar agora tinha ficado quase impossível. Orçar de volta não ia dar. Optei então por deixar o kite me arrastar com o vento até a margem de baixo, esperando que o Konrado notasse que eu estava com problemas e fosse me esperar na outra margem.

De fato, foi assim que funcionou, eu estava apreensivo pois teria que dar um jeito de pousar o kite sozinho se o Konrado não estivesse lá, e o vento estava ainda muito forte. Para completar, nesta margem para a qual eu me dirigia, havia uma estrada e fios elétricos. Se tudo mais desse errado me restaria me desconectar do kite e torcer para ele aterrisar num lugar legal e de fácil acesso. Fui deixando o kite me arrastar segurando o chicken-loop com a mão para dar o depower e soltei o quick-release do strap de segurança para não ter nada me conectando à pipa quando chegasse perto da beira. Nessa hora notei o Konrado estacionando a latinha velha do Mike ali na beira e fiquei mais aliviado. Só que exatamente neste momento uma rajada mais forte me arrancou o kite das mãos e foi embolando o dito cujo para a margem. Com um pouco de sorte o kite se acomodou no capim da beira, bem ao lado de uma árvorezinha seca que o teria furado caso ele tivesse voado para ela! Ufa, bastante cansado depois de uma sessão de mais de uma hora, ajudei o Konrado a desmontar e voltamos para a praia de origem para que ele pudesse dar o velejo também.

De volta à praia já eram 16:30hs e o vento começava a diminuir. Quando terminamos de desembaraçar as linhas e inflar o kite, o vento já estava bem mais fraco. A dúvida agora era se haveria vento suficiente para o Konrado entrar com a 10. E a preguiça para montar a 12, com a 10 já inflada ali na praia? Optamos então por aumentar o comprimento das linhas para usar a 10 e lá foi o Konrado testar. Acabou que ele entrou na hora certa para o peso dele e para o tamanho da vela. O vento agora devia estar por volta de 15kts e ele teve uma bela e tranquila sessão e nem teve problemas para retornar à praia orçando. Com o vento mais fraco a turbulência na beira havia diminuído bastante. As fotos abaixo eu tirei do Konrado, pena que não deu para ele tirar nenhuma foto da minha sessão.

Agora sim, de cabeça feita, fizemos novo pit-stop no Subway e voltamos pro rancho Wallaby já pensando que, depois de uma ventaca daquelas o outro dia tinha que amanhecer melhor. Mas a previsão não era boa e ao amanhecer do dia seguinte o vento já estava forte de novo e aí eu joguei a toalha e concordei com o Mike, vamos embora daqui! Até prepararmos tudo já eram 15:00hs e partimos eu, Mike e Konrado, com 3 asas em cima do carro e com o carro tão cheio que para eu entrar no banco de trás neguinho tinha que me apertar com a porta do carro até conseguir fechar! A vantagem era que para dormir ficava até fácil, era só fechar os olhos: eu estava tão apoiado em malas, velas de kite, mochilas e cintos de vôo que não dava nem para mexer muito cabeça. No caminho paramos às 2 da manhã para dormir num hotel e no dia seguinte prosseguimos para Lookout Mountain onde chegamos às 11 da manhã.

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