Thursday, November 30, 2006

Flight Academy com Mike Barber em Andradas - Parte 2


A quinta-feira amanheceu azul, dia lindo prometendo vôo clássico! Resolvemos nos mudar para a Pousada do Gavião e, feita a mudança, logo subíamos para a rampa onde montamos o equipo enquanto um vento forte de Sul/Sudoeste botava pressão na cara e dava o tom do que prometia ser um belo dia de vôo, reparem que pintura de céu nos aguardava!


Resolvemos estabelecer uma prova apenas para voar com um objetivo e o "comitê de prova" chamou uma triangulação [Rampa - São João da Boa Vista - Aguaí - Rampa] para uma prova de 75Km. Mesmo com o céu bonito assim,ainda ficamos um bom tempo na rampa aguardando algum sinal positivo de que havia lift seguro.

Fabinho, numa asa quero-quero, decolou em primeiro mas foi logo afundando direto pro pouso sul. Achei que o vôo dele tinha acabado, mas o moleque (22 anos) é talentoso e ficou segurando, brigando muito, bem baixinho.

Enquanto isso na rampa alguns sinais de lift se faziam notar : algumas andorinhas passaram liftando na cara da rampa e um urubu circulava ganhando longe no meio do vale.

Ainda um pouco desconfiado, Mike achou que era hora de decolar e foi em primeiro logo engatando numa fraquinha bem colada no morro à esquerda da rampa. Perguntei pra ele no rádio se ele achava que a termica valia e ele achou que eu podia tentar. Decolei logo atrás e
com bom oportunismo girei apertado no lift bem colado no morro e entrei no final da térmica, um pouco abaixo dele.


Que era mesmo o final da termal ficou comprovado quando Armandinho decolou , jogou exatamente ali e já não achou mais nada! Enquanto nossa térmica aumentava em razão de subida víamos o Armando perdendo altura ao longo da cordilheira e o Fabinho que, de nossa altura, já parecia estar colado no chão.
Enquanto aguardávamos o Armando, eu e Mike derivávamos para trás da rampa chegando a uns 2.500mts e com sustentação confortável.

Nessa hora me surpreendi com a visão do Armando mais alto do que eu e bem mais pra perto de Andradas, pensei "Pô o Armandinho deve ter pego um canhão". Mike incentivou pelo radio"Good Job Armando!".

Enquanto eu apreciava a paisagem e aguardava o Armando chegar me distraí um pouco e caí da termal tomando imediatamente uma chamada da "chefia": "Fabiano para onde você pensa que está indo? Você acaba de perder 100 mts nessa manobra! Get back NOW!".
Envergonhado tentei recuperar, perdi ainda um pouco mais, mas felizmente voltei a achar o miolo e continuei ganhando. A técnica de centralização em térmicas ensinada já começava a fazer efeito.

Mike Barber chama isso de "Clover-leaf Pattern", ou "Padrão de Folha de Trevo". Quem já leu a entrevista dele no livro "Secrets of Champions" do Dennis Pagen sabe que a técnica consiste em estender um pouco as curvas sempre na direção do maior apito do vario.

Nessa hora ouvi o Mike falando pra o Armando "Slow down Armando!" e eu ainda olhei procurando o Armando onde o tinha visto pela última vez, perto de Andradas, mas o tinhoso Armando já tinha nos deixado pra trás e já estava na outra ponta da cordilheira tirando pra São João da Boa Vista! Enquanto isso o Fabinho tinha se levantado das profundezas do pouso sul e já vinha se juntar a nós para a tirada!

Mike ficou com o difícil trabalho de "frear" o Armandinho, que é um voador "ensaboado", enquanto me obrigava a acelerar mais. Eu sou um voador mais do tipo contemplativo, ou pelo menos eu era... A verdade é que eu simplesmente não estava preparado para a velocidade do vôo que o Mike ensina a imprimir ao cross!

Armando já bem mais acostumado com isso, seguia na frente soltinho e voava colado na base de uma nuvem escura quando Mike avisou no rádio "Armando vem pra beira da nuvem, você está voando muito próximo à base". Alguns segundos se passaram sem resposta do Armando e nova chamada "Armando you´re in too deep, get out now!!". Novamente o Armando ficou em silêncio. Eu tirando na direção da térmica do Armando e chegando um pouco mais baixo do que ele, procurava o Armando olhando pra cima até que o vi, a asa Aeros Laranja contra uma base muito preta! "Que visual alucinante, pensei, pena que não dá pra tirar essas fotos nessas horas! " Mike chamou outra vez "Armando você está entrando na nuvem, sai daí do meio agora!". Aí eu não aguentei e entrei na linha:"Armandinho o Mike quer que você saia de perto da base AGORA!" e finalmente o Armando calmamente "Ah ok, eu não tinha ouvido direito o que ele estava falando!!"

Logo comecei a entender a velocidade das tiradas e a rapidez na tomada de decisões do vôo de cross de alto nível. Tinha o privilégio de poder ficar seguindo o Mike e o Armando e tomando partido das linhas mostradas por eles. Enquanto isso Mike Barber ia na frente tomando as decisões e explicando porque fazia cada escolha. A primeira perna pra São João foi de vento cruzado e fomos rápido.
Fabinho ficou pra trás, era realmente impossível acompanhar o ritmo das topless na tirada!

Entre São João e Aguaí a perna era de contra vento e fomos devagar sob um céu bem azul. Muita ralação voando de contravento! Deu um trabalho danado e eu fui ficando mais pra trás que os 2 mas continuava sempre seguindo em frente. Quando eu tirei e estava quase em Aguaí Armando e Mike já estavam lá no meio da cidade bem altos e começando a voltar. Resolvi voltar dali mesmo para ir junto com eles.

No caminho de volta as formações sobre a cordilheira da Rampa haviam escurecido bastante e era possível ver algumas chuvas no horizonte. Quando passamos sobre o aeroporto de São João novamente, dessa vez a favor do vento, já tínhamos 2 horas de vôo e, no meu terceiro dia seguido de vôo com 6 horas acumuladas eu estava sentindo meus braços muito cansados. Com 32 Km de distãncia da rampa e uns 60 Km voados no total resolvi que o cansaço e a perspectiva de aumento na turbulência não seriam boa combinação e resolvi pousar no aeroporto de São João, onde o vento havia aumentado bastante.

O pouso foi bem ruinzinho, eu vim descendo na vertical com o vento forte e no final a asa não tinha muita pressão pra arredondar, resultando num caboing de bico e uma joelhada no chão. Nenhum estrago! Na verdade eu tinha era que ter caçado o VG e acelerado bem mais, mas não houve danos e eu estava amarradão!

Depois fomos resgatar Armando e Mike que haviam completado a prova de 75Km a ainda tinham tirado pra Espírito Santo do Pinhal para um pouso confortável! Fim do 3o dia, todo mundo cabeção, show de bola !!
Os dados deste vôo estão publicados no XC Brasil no seguinte link:
O mais importante era que a condição continuava a evoluir. Armando foi dormir cedo e, como de costume, cheio de má-intenção na cabeça para o dia seguinte!
Aguardem brevemente a continuação desta história na parte 3, o que dia em que a condição realmente pipocou!!

1 comment:

Anonymous said...

o que eu estava procurando, obrigado