Thursday, December 07, 2006

Flight Academy com Mike Barber em Andradas - Parte 3

A 6a-feira amanheceu novamente com uma dia lindo porém com uma mudança no padrão: o vento era de Nordeste e estava bem forte pela manhã. Eu fiquei um pouco apreensivo com a velocidade com que as nuvens passavam sobre a cordilheira mas o César dono da Pousada do Gavião garantia que à tarde o vente iria diminuir. De fato ao chegarmos na rampa o vento era bem forte. Decidimos montar e aguardar e o céu estava mais formado do que no dia anterior. Armandinho era o mais pilhado e já começava a cantar a pedra de partir para Campinas. Mike Barber definiu o dia como um dia forte e meio que no limite do que ele achava razoável pra pilotos de nosso nível.









Eu estava bastante confiante após os 3 primeiros dias e não estava mais apreensivo uma vez que o vento realmente parecia ter dado uma acalmada. Eu e o Mike optamos por decolar com cabo, reparem nas belíssimas formações!

Armando, que novamente foi o 3o, nem precisou de cabo pois o vento diminuía um pouco mais a cada minuto. Dessa vez, após a decolagem, cada um engatou numa térmica diferente e todas levaram-nos rapidamente aos 2.000 mts onde colamos numa base bem escura e derivamos para trás da rampa, sobre o vale do pouso sul. Rapidamente chegamos aos 2.500 mts e as formações estavam fechadas com lift em todas as direções.

Começamos a tirar a favor do vento e íamos, ás vezes, ganhando 2m/s nas retas! Armando e Mike pararam para abastecer mais um pouco numa térmica, Mike deu uma reclamada com a forma de o Armando entrar na térmica porque tinha atrapalhado ele. Eu cheguei depois e engatei numa outra térmica exatamente ao lado assim eu não atrapalharia de jeito nenhum mas o Mike queria era que nós nos acostumássemos a rodar juntos mesmo e comentou meio que brincando: olha lá Armando o Fabiano acha que pode subir melhor que a gente!.

Eu tentei explicar pelo radio que tinha achado mais seguro rodar ali porque estávamos todos mais ou menos na mesma altura e assim haveria mais espaço mas não recebi resposta, resolvi então largar minha térmica e entrar na deles.

Continuávamos subindo e chegando perto das bases negras. Foi mais ou menos nessa hora que o resgate me chamou e o Armando entrou na linha dizendo que eu estava sem comunicação. Aí eu não entendi nada, eu tinha estado falando sozinho o tempo todo! Mas como? Eu havia testado o sistema logo antes de decolar e estava perfeito! Por isso o Mike não havia me respondido nas 2 vezes que o chamei, e eu achando que ele estava muito ocupado pra falar! Logo percebi a origem do problema: o cabo do PTT havia se soltado na decolagem, eu conseguia segurar as duas pontas soltas mas, de luva, era praticamente impossível tentar plugar de volta. Tudo bem, ao menos eu
podia ouvir os outros! Mike passou voando perto de mim e me pediu para fazer sinal com o braço se eu podia ouvi-lo e fiz o sinal então ele sabia que eu tava on-line pra ouvir pelo menos!

Mike avisou que era melhor perdermos alguma altura pois estávamos ficando meio "fechados" em nossa rota. Não precisou falar duas vezes, quando ele olhou pra mim de novo eu já tinha rodopiado 200 mts pra baixo e ele falou "Chega já deu!!".

Mike estava comandando a tirada para fora das formações em direção a Mogi onde estava a borda, o verdadeiro "lip" daquela formação poderosa que estava se desenvolvendo, bombeando as térmicas e nos fornecendo farta energia. Nessa direção era a linha de segurança, o começo de um buraco azul. A idéia do vôo em meio a formações cabulosas era ter sempre um trecho azul para onde escapar em caso de emergência, ou seja, em caso de lift superior a 2,5 m/s em todas as direções!

A esse perigo Mike chama de "The Pinch", ou "O Beliscão", no sentido de que você vai sendo apertado por diversas formações que rapidamente podem fechar aporta de saída. Mas não era definitivamente o caso daquele dia pois voaríamos por muito tempo com todo aquele céu azul à nossa frente seguindo exatamente a beirada, onde as formações iam pipocando. Só que pra trás a coisa parecia ir ficando cada vez mais carregada tanto que à medida que seguíamos em frente quando olhávamos pra trás não havia mais céu azul. Mas como eu ia dizendo, Mike começou a puxar a tirada e Armando foi atrás.

Comecei a voar com 50% de VG e o Mike, lá na frente, estava falando no radio que eu estava voando lento demais. Eu não queria puxar muito o VG pois estava achando o ar meio turbulento só que isso estava fazendo com que eu me cansasse ao empurrar a barra. Mike fez 180 graus e voltou para voar ao meu lado

- Fabiano sua asa tá com muito washout, quanto VG você está usando?
- 50%.
- Caça 75% do VG você está muito lento!

Fiz o que ele mandou e imediatamente a pressão na barra aliviou totalmente e a asa ficou até mais estável nas turbulências! Aceleramos para uns 70Km/h com groundspeed de 80Km/h, o que indicava que lá no alto e perto da base o vento era bem mais fraco. Esse foi o ponto alto da semana!!! Uma tirada incrível, linda, seguindo o Mike e Armando, todo mundo voando rápido e junto em trajetórias paralelas porém com alguma distância lateral, o que aumentava as chances de encontrar lift, voando em leque como diz o Juan! E era assim: de repente eu via a asa do Mike empinar e ganhar muita altura na reta, na mesma hora Armandinho jogava atrás dele e subia muito, eu ia atrás e subia também! De repente o Mike perdia altura e o Armando saía da zona de sink e eu saía também. Mais um pouco e era o Armando que ganhava e lá ia eu na trajetória dele. Em seguida o Armando afundava muito e eu desviava! Dessa forma, me mantendo uns 50 metros atrás dos outros consegui ganhar uma diferença de altitude de uns 500 metros para o Mike e uns 300 para o Armando! Fantástico poder aproveitar a linha dos outros pilotos! Fiquei chateado de não poder fotografar ou filmar aquelas cenas, as asas topless lindas lindas lindas, tirando juntinhas cada uma mostrando seu colorido contra as bases plúmbeas! Com a permissão do Haroldão: "Momentos Mágicos!"

Nessa hora Mike estava em dúvida sobre a melhor linha a seguir: pela direita, onde uma nuvem pequena começava a chover fraquinho molhando um pouco minha viseira, ou pela esquerda, mais da direção de onde vínhamos mas onde as formações haviam se encostado e formado um teto contínuo cinza que obscureceu o chão e momentaneamente parecia ter apagado as térmicas.
Armando sempre impetuoso começou a puxar mais para a direita por conta própria e o Mike reclamou dizendo que assim ele nos obrigaria a seguir pela direita e por enquanto o Mike ia favorecendo a esquerda. Acabou que o Armando voltou pra linha do Mike mas o Mike ralhou com ele falando que com esses desvios a gente estava perdendo metros preciosos, e olha que o desvio do Armando não tinha sido por mais de 2 minutos.

Nessa hora o Mike foi ficando tirando para a esquerda na frente e perdendo muita altura. Armando ia caindo com ele. Eu, bem mais alto nessa hora ainda arrumei uma térmica fraquinha e fiquei ali, de camarote, vendo o Mike trabalhar baixo. Sem ter como avisar ninguém do que eu achara. O Armando, atento, me viu rodando e veio pra baixo de mim mas na altura dele a térmica já não funcionava. Foi nessa hora que o Mike virou-se e, lá de baixo viu a gente rodando! Ficou p. da vida e reclamou com o pobre Armando, que mal havia acabado de jogar embaixo de mim e não tinha tido tempo nem de dar um 360, que, pombas, era para ele avisar quando pegasse algo!! O Armando ficou tentando se explicar e eu comecei a rir, sem poder falar nada pelo rádio! Eu estava me divertindo muito, maravilhado com a facilidade de voar a favor do vento e recompensado com o belo visual das montanhas e daquelas campinas paulistas iluminadas pelo sol na nossa proa!

Mais algum tempo se passou e Mike e Armando foram ficando muito baixos, e onde eles estavam eu não conseguia ver nenhum pouso bom, era difícil avaliar o alcance do planeio deles pois eles estavam bem mais baixo que eu, provavelmente eles teriam alcance de algum pouso, mas nessa hora eu preferi ficar ali pendurado que nem um lustre para ver qual era o coelho que o Mike ia tirar da cartola. Nessa hora ouvi o Mike dizer "Ok guys I´m gonna land". Na verdade, segundo eles me contaram depois, ele tinha falado "Ok guys I think I´m gonna land." Mas eu entendi que ele já tinha se decidido pelo pouso. A nuvenzinha que vinha molhando minha viseira tinha chegado junto de novo e minha térmica tinha praticamente acabado. Mike e Armando pareciam 2 telhadinhos brancos sobre as plantações, eu não podia falar nada com ninguém... pensei "Vou esticar meu voozinho mais um pouco, só pra botar mais uns Km no meu log!".

Assim fiz, abandonei a térmica em direção ao buraco azul, rota de Mogiguaçu, com a nuvenzinha me jogando umas gotinhas pela direita. Cacei 75% e fui amarradão, mais ou menos na mesma velocidade que os carrinhos que seguiam naquela rodovia de autorama lá embaixo! Se eu não achasse nada já tinha escolhido um pouso imenso um pouco mais na frente. Estava na hora de seguir os ensinamentos do guru, se não me falha a memória, num nível básico de tomada de decisões a coisa é mais ou menos assim:

-tomar as decisões sobre a próxima tirada enquanto se está subindo, quando chegar na base da nuvem ou no final da térmica a cabeça já tem que estar fechada com
alguma estratégia.

-fora casos especiais, nunca voltar atrás para perseguir uma térmica que acabou.-tratar a tirada como uma espécie de térmica ao contrário, onde você simplesmente tenta perder o mínimo possível fugindo imediatamente das linha de grande
afundamento,

-perceber os sinais de térmicas altos (nuvens), médios (pássaros) e baixos (gatilhos) e adaptar sua estratégia de acordo.

-maximizar a térmica e sair dela assim que ela comece a perder rendimento

Fui escolhendo minha tirada com carinho e fazendo um "dolphin flight" onde, mesmo que acabasse perdendo altura no agregado, a idéia era planar mais longe possível aumentando as chances de esbarrar em alguma coisa. Logo uma nuvem começou a se formar bem na minha reta e bumba, ganhei de novo! A térmica era fraca e assim que ficou no zero a zero, bem antes da base eu tirei de novo. Estava na verdade amarradaço de estar voando sozinho e, pela primeira vez naquela semana, tomando decisões de vôo por minha própria conta. Melhor do que isso, eu estava me saindo melhor que os outros!

Mas aí é que eu estava enganado. O radio me trouxe a seguinte mensagem: "Ok Armando we´re back at cloud-base let´s go this way..." Caraca, os caras tinham se arrumado e eu é que iria ficar pra trás agora! Ainda tentei olhar pra trás para ver se conseguia enxergá-los mas não tinha a menor chance! Eu não sabia mais onde eles podiam estar em relaçao a mim! O negócio era continuar com meu plano de vôo solo!!

Nessa hora me toquei que minha última tirada tinha sido de vento cruzado pois eu tinha estado perseguindo o pouso em vez de voar junto com a condição. Com isso a nuvenzinha danada começou a molhar meu capacete de novo. Olhei para a direção da nuvenzinha à minha direita e o que vi bem mais longe atrás dela não me agradou muito: uma coluna de chuva grande, talvez a uns 20km de distância. Resolvi abandonar a estrada e o pouso e seguir a favor do vento e para longe das chuvas. Fui contornando à esquerda de Mogiguaçu e alguns urubus amigos se juntaram a mim no momento preciso em que engatei em outra fraquinha. Dei um alô pra eles mas não estavam a fim de muito papo e tiraram mais pra frente. Fiquei ali rodando e esperando pra ver se eles achavam coisa melhor.

Outro conselho do mestre passou em minha cabeça "Não siga os pássaros. Siga-os apenas quando eles estiverem subindo e ainda estiverem mais baixo que você!" Fiquei aguardando rodando fraquinho e quando os urubus acharam eu joguei um pouco mais pra frente. Eu estava voando no azul há algum tempo e meu ritmo tinha diminuído bastante. Olhei para as chuvas e a pequeninha continuava vindo atrás de mim e molhando ocasionalmente minha viseira. Lá atrás a grandona parecia ter ficado maior ainda mas estava bem longe, com o maior pedaço de
sol entre a chuvinha e a chuvona. "Bem, pensei ainda tá tranquilo..."

Aproveitei para digitar um GOTO no fantástico vario Brauniger IQCompeo e a lista dos waypoints de Andradas ordenados pela facilidade de alcance (maior altitude estimada de chegada) surgiu na tela. Fui percorrendo as opções até localizar um que fosse pouso. O point
A33 chamava-se AERONOVO, pensei, "deve ser aeroporto". Na noite passada eu já tinha brincado dizendo que eu sofro de airport suck! Sempre que vejo um aeroporto bacaninha, com biruta, lanchonete, me dá vontade de pousar! Então meti um GOTO A33 e fiquei olhando a altitude estimada de chegada, só que ela ainda era negativa!

Como eu não queria chegar por baixo da terra achei melhor ficar derivando num zero a zero mais pra mais do que pra menos para ver se a altitude melhorava. A nuvenzinha me alcançou novamente. A nuvenzona vinha junto lá atrás. Os pousos eram fartos e os urubus continuavam zanzando por ali por perto mostrando que havia ar quente ao redor. Afinal ganhei um pouco mais de altura à medida que derivava para o A33 e quando a altitude marcou 150 mts acima, decidi que meu vôo tinha ficado muito lento e que a chuva estava andando mais do que eu, e resolvi por fim àquele vôo, que afinal já era meu "personal best" com mais de 50Km (o vôo deu 52Km). Grande decisão aquela, como eu iria descobrir em breve!

Parti para onde a setinha do GPS indicava novamente deixando a chuvinha pra trás. Ainda não dava para distinguir o aeroporto. Acho isso de perseguir waypoints desconhecidos no GPS um
lance muito maneiro, a gente acredita no aparelho e, de repente, tá lá o lugar na nossa frente. O tal aeroporto estava em construção e a pista era de terra batida. Não havia biruta mas o vento era muito fraco, se é que havia algum. Escolhi um quadradinho gramado ao lado da pista e preparei para tentar fazer um pouso de precisão nessa alvo,do tamanho talvez de um campo de futebol de salão, mas sem nenhum obstáculo em volta. A falta total de vento me surpreendeu com a velocidade da asa no solo sendo muito rápida. Achei que iria crashar a favor do vento mas era só impressão, essa asa é mesmo demais, tinha pressão para arredondar e o pouso se não foi suave, pelo menos foi bom e no alvo! Agradeci a Deus satisfeito, tirei o cinto e imediatamente peguei o radio pra passar que tinha pousado e dar minha posição.

Mike e Armando me copiaram e informaram que continuavam tirando alto na direção de Campinas. Eu pedi que Armando informasse ao resgate que eu havia pousado no A33 e como o
resgate estava com o mapa do campeonato, obrigado organização!, sabia que rapidamente eu seria resgatado. Fiquei ali um tempo curtindo aquela maravilhosa sensação de vôo que acho que só quem voa pode saber do que estou falando. Parecia que eu tinha acabado de viver um sonho, só que era real, era ali e tinha sido agora, que êxtase!

Comi uma barrinha de cereais e bebi água. Algumas gotas de chuva começaram a cair e pensei: olha minha nuvenzinha aí de novo. E olhei pra longe vendo a coluna mais forte de chuva que parecia parada na distância. Olhei para o hangar do aeroporto e falei: "taí um lugarzinho perfeito pra desmontar a asa" Caminhei uns 100 mts até o hangar mas quando entrei percebi que o mesmo estava completamente lotado! Não havia lugar para uma bicicleta sequer! Havia alguns caras da obra lá dentro do hangar e perguntei se não haveria por ali algum outro telhado qualquer. Eles me falaram que tinha um casebre ali do lado do hangar. Fui dar uma olhada e vi que daria para botar 60% da asa pra dentro, mas já era melhor do que nada. Fui lá e fiz mais 2 viagens, uma com o cinto e outra com a asa, e, quando terminei a operação, já chovia mais forte.

Impressionante o céu estava bem mais escuro e parecia que aquela coluna distante havia chegado bem mais rápido do que eu poderia imaginar, cerca de 20 minutos após meu pouso.
Logo a chuva caiu forte pra valer! O vento foi aumentando e pelo menos vinha da direção de onde a casinha tinha uma parede, pois as outras laterais eram abertas. Só que logo isso já não fazia mais diferença. A chuva aumentou mais e o vento aumentou muito e a chuva entrava agora pela lateral. Logo já chovia horizontalmente e eu me escondi atrás da parede. Quando eu achei que a coisa já tava feia, aí é que o bicho pegou mesmo! As rajadas de vento passaram a vir de todas as direções e o barulho da água no teto de metal era ensurdecedor! A asa estava tomando umas rajadas que ameaçavam fazê-la sair voando mesmo estando dentro da casinha. Lembro que pensei "Pô se eu tivesse pousado num descampado teria perdido minha asa novinha". Isso foi antes de eu pensar "Pô, se eu tivesse pego essa chuva em vôo seria fim de jogo pra
mim!" E um arrepio percorreu minha espinha. Na foto abaixo o momento do dilúvio.



A coisa é tão radical assim. Vento zero, chuvinha amiga, 20 minutos e...eu estava agora numa dessas filmagens de vendaval do Discovery Channel segurando minha asa pelos cabos do nariz e tomando um banho de água gelada ouvindo o vento zunindo. Tentei chamar Armando pelo radio para avisar o perigo mas eu não conseguia ouvir nada direito. Finalmente acho que passei a mensagem pois Armando me reportou que eles estavam seguindo bem tranquilos já próximos a Campinas. Relaxei quanto a isso e continuei ali segurando a asa. Uns 20 minutos depois o resgate chegou e a chuva já tinha diminuído bastante embora ainda estivesse ridiculamente forte! Meia hora depois a chuva parou e finalmente pudemos desmontar e partir para a operação resgate 2, que parecia que seria longo!

De fato eu gostaria muitíssimo de poder ter participado do vôo do Armando e do Mike que deve ter sido uma loucura, mas tive que participar pelo rádio e ficar impressionado com o tempo e a distância que eles já estavam botando. Pelo que entendi eles resolveram passar à esquerda de Campinas onde foram obrigados a fazer uma perna para a esquerda para poder continuar perseguindo a formação. O tempo todo eles tinham estado navegando na beirada da formação, e agora, já no final da tarde eles reportavam térmicas consistentes porém mais espaçadas e com teto de 2.700 mts. Conseguiram chegar até Atibaia onde sobrevoaram o pouso de Atibaia muito altos, a mais de 2.500 mts, e, daquela altura, o pouso lhes parecia tão pequeno que resolveram tirar mais um pouco,quando finalmente localizaram um pouso confortável ao lado da rodovia Dom Pedro. Um vôo de 125Km em linha reta e talvez de uns 160 Km voados, devido ao desvio que tiveram que fazer!!

Caraca! Que semana de vôo galera! Essa não vai dar pra esquecer nunca!! Esse esporte nos leva a realizações pessoais impressionantes, lugares inimagináveis, aventuras
inesquecíveis! É acho que não vai dar pra parar de voar tão cedo!!!

Este vôo está no XC Brasil em http://xc.ciclone.com.br/modules.php?name=leonardo&op=show_flight&flightID=895 e o vôo do Armando está em
http://xc.ciclone.com.br/modules.php?name=leonardo&op=show_flight&flightID=887

Thursday, November 30, 2006

Flight Academy with Mike Barber in Andradas – Part 2

(Please refer to the pictures below in the portuguese version of this post.)

Thursday greeted us with a blue sky, a beautiful day promising a classic flight! We decided to change our “base-camp” to the Pousada Pico do Gavião, a much more bucolic environment at the foot of the ridge, and, upon getting settled, we were soon driving to the ramp, where we set-up while a consistent South-Southwest Wind exerted pressure on our faces and gave the tone of what seemed to be a nice flying day. Notice the hand-painted Sky waiting for us!

We decided to come up with a task just so we could fly with an objective and the task comitee called for a triangulation between the launch, the city of São João da Boa Vista, the city of Aguaí and back to the launch at the official South LZ; making up a total 75Km.

Even though the sky looked real nice we stayed for a good while at the ramp waiting for some positive sign of sure lift.

Fabinho on a low-performance Quero-Quero glider, single surface, king-posted wing took-off first and lost a lot of height as he sinked towards the South LZ. I thought his flight would be over then, but the kid is very talented and held on, scratching real low.

Meanwhile at the ramp some signs of lift started to show: swallows diving at the ramp and a giant buzzard turning lazily on the middle of the valley.

Still a little unsure, Mike decided it was time to take-off and went next, clinging to a weak thermal really close to the terrain to the left of the ramp. I asked him on the radio if he thought the thermal would hold and he said I might as well give it a try. So I took off next and, in a good oportunistic move, turned really tight to catch the end of the thermal, a little lower.

That it was the end of the thermal was soon proved as Armando took off third and went to the same spot not finding anything. While our climb rate only improved, we could only watch Armando sinking along the ridge, while Fabinho still scratched at a height that, from our p.o.v. seemed like 1 meter above the terrain.

While we waited for armando to do something me and Mike drifted over the back reaching 2.500m amsl with comfortable lift.

I got distracted for a while, and was surprised to see Armando higher than I was, closer to the city of Andradas on the left, I thought he should have caught a real good one, Mike cheered him up through the radio “Good job Armando!”.
While I admired the view and Armando´s quick climb I got a call from Mike “Fabiano where do you think you´re going? You´ve just lost 100 mts in this last couple turns, get back NOW! Ashamed of myself I tried to recover, losing even more height but quickly relocated the core and continued climbing.

The thermal centering techniques were already beggining to work out.
Mike calls this technique the “clover leaf pattern”. If you´ve read the book “Secrets of Champinos” by Dennis Pagen, you know that this technique consists of extending the turns always alittle bit on the direction of stronger lift, continually relocating.

At this time I heard Mike telling Armando to slow down, I looked for him where I had last seen him but the slippery Armando was already at the right end of the ridge gliding towards the first turnpoint. Meanwhile Fabinho had slowly climbed and was starting to move in our direction. This was the last I would see of him during this flight though his single surface unable to stand the long glides in descending air.

While Mike tried to hold Armando back a little bit, so that we could fly together, he told me to fly faster. I am more of a contemplative pilot, or at least I was, truth is that I wasn´t prepared for the speed and intensity that mikes teaches us to put into the XC flight.

Armando, already more used to that, took the lead and glided ahead, glued to a dark cloud base. Mike came on the radio and told Armando to get closer to the edge of the cloud and not to fly so close to the base on the middle of it. A few seconds go by without an answer from Armando and Mike calls again: “Armando you´re in too deep, get out now!”. Again Armando was silent. I was gliding towards Armando´s base getting there a little lower than him. I tried to locate him looking up, until I saw him, his Aeros Combat glowing bright orange against that dark grey base. I thought “What an amazing view, too bad I don´t have a camera in my hands right now!”. Mike came in a third time: “Armando you´re getting whited-out, get outta there now!”. I was starting to get nervous and came in the frequency in portuguese and told Armando that Mike wanted him to leave that base immediately. Armando finally answered quite calmly saying “Oh ok, I wasn´t hearing what he was saying.”

Soon I was starting to grasp the speed of the glides and the quick analysing of the conditions of a high level XC flight. I had the privilege of following Armando and Mike and take advantage of their lines. Mike was now leading and explaining his decisions real time. The first leg towards São João was crosswind and it was fast.

Between São João and Aguaí the leg was upwind and we had our pace greatly reduced as we took on a piece of blue skies. A lot of work was put into the upwind leg! I started to get a little behind the “main gaggle” but still kept on pushing. When I finally had Aguaí within glide they were both high over there and starting to come back. I decided to give up the turnpoint and stick along to them.

On the way back, the formations over the ramp had darkened considerably and we could see some rain showers on the horizon. As we got back over the São João airport we had close to two hours of flight and, on my third straight flying day, with six accumulated hours , I was feeling my arms quite tired. With some 32Km away from launch and some 50 Km flown total, I reasoned that my fatigue and the general strengthening of the condition closer to the ridge wouldn´t make a nice combination and I decided to land at the airport, where the wind was blowing hard and variable.

Landing wasn´t so smooth, I came down vertically against the wind but on short final the wind stopped and I didn´t get much lift on flare and did a classic nose “caboiiing” and scratched my knee. No further damage! Looking back I should have had some VG on and should have come way faster than I did. Anyway I was stoked!

Then I was quicly retrieved and we went to retrieve the other two, who had made goal with height to spare, and even took a quick leg to the city of Espírito Santo do Pinhal before coming in to a comfortable landing.

End of third day, everybody with a “big head” (brazilian slang for “satisfied”)

This flight data is published on the brazilian Leonardo server at:
http://xc.ciclone.com.br/modules.php?name=leonardo&op=show_flight&flightID=894

The most important thing was that the condition kept improving. We went to sleep early with real bad-intentions for the next day!

Flight Academy com Mike Barber em Andradas - Parte 2


A quinta-feira amanheceu azul, dia lindo prometendo vôo clássico! Resolvemos nos mudar para a Pousada do Gavião e, feita a mudança, logo subíamos para a rampa onde montamos o equipo enquanto um vento forte de Sul/Sudoeste botava pressão na cara e dava o tom do que prometia ser um belo dia de vôo, reparem que pintura de céu nos aguardava!


Resolvemos estabelecer uma prova apenas para voar com um objetivo e o "comitê de prova" chamou uma triangulação [Rampa - São João da Boa Vista - Aguaí - Rampa] para uma prova de 75Km. Mesmo com o céu bonito assim,ainda ficamos um bom tempo na rampa aguardando algum sinal positivo de que havia lift seguro.

Fabinho, numa asa quero-quero, decolou em primeiro mas foi logo afundando direto pro pouso sul. Achei que o vôo dele tinha acabado, mas o moleque (22 anos) é talentoso e ficou segurando, brigando muito, bem baixinho.

Enquanto isso na rampa alguns sinais de lift se faziam notar : algumas andorinhas passaram liftando na cara da rampa e um urubu circulava ganhando longe no meio do vale.

Ainda um pouco desconfiado, Mike achou que era hora de decolar e foi em primeiro logo engatando numa fraquinha bem colada no morro à esquerda da rampa. Perguntei pra ele no rádio se ele achava que a termica valia e ele achou que eu podia tentar. Decolei logo atrás e
com bom oportunismo girei apertado no lift bem colado no morro e entrei no final da térmica, um pouco abaixo dele.


Que era mesmo o final da termal ficou comprovado quando Armandinho decolou , jogou exatamente ali e já não achou mais nada! Enquanto nossa térmica aumentava em razão de subida víamos o Armando perdendo altura ao longo da cordilheira e o Fabinho que, de nossa altura, já parecia estar colado no chão.
Enquanto aguardávamos o Armando, eu e Mike derivávamos para trás da rampa chegando a uns 2.500mts e com sustentação confortável.

Nessa hora me surpreendi com a visão do Armando mais alto do que eu e bem mais pra perto de Andradas, pensei "Pô o Armandinho deve ter pego um canhão". Mike incentivou pelo radio"Good Job Armando!".

Enquanto eu apreciava a paisagem e aguardava o Armando chegar me distraí um pouco e caí da termal tomando imediatamente uma chamada da "chefia": "Fabiano para onde você pensa que está indo? Você acaba de perder 100 mts nessa manobra! Get back NOW!".
Envergonhado tentei recuperar, perdi ainda um pouco mais, mas felizmente voltei a achar o miolo e continuei ganhando. A técnica de centralização em térmicas ensinada já começava a fazer efeito.

Mike Barber chama isso de "Clover-leaf Pattern", ou "Padrão de Folha de Trevo". Quem já leu a entrevista dele no livro "Secrets of Champions" do Dennis Pagen sabe que a técnica consiste em estender um pouco as curvas sempre na direção do maior apito do vario.

Nessa hora ouvi o Mike falando pra o Armando "Slow down Armando!" e eu ainda olhei procurando o Armando onde o tinha visto pela última vez, perto de Andradas, mas o tinhoso Armando já tinha nos deixado pra trás e já estava na outra ponta da cordilheira tirando pra São João da Boa Vista! Enquanto isso o Fabinho tinha se levantado das profundezas do pouso sul e já vinha se juntar a nós para a tirada!

Mike ficou com o difícil trabalho de "frear" o Armandinho, que é um voador "ensaboado", enquanto me obrigava a acelerar mais. Eu sou um voador mais do tipo contemplativo, ou pelo menos eu era... A verdade é que eu simplesmente não estava preparado para a velocidade do vôo que o Mike ensina a imprimir ao cross!

Armando já bem mais acostumado com isso, seguia na frente soltinho e voava colado na base de uma nuvem escura quando Mike avisou no rádio "Armando vem pra beira da nuvem, você está voando muito próximo à base". Alguns segundos se passaram sem resposta do Armando e nova chamada "Armando you´re in too deep, get out now!!". Novamente o Armando ficou em silêncio. Eu tirando na direção da térmica do Armando e chegando um pouco mais baixo do que ele, procurava o Armando olhando pra cima até que o vi, a asa Aeros Laranja contra uma base muito preta! "Que visual alucinante, pensei, pena que não dá pra tirar essas fotos nessas horas! " Mike chamou outra vez "Armando você está entrando na nuvem, sai daí do meio agora!". Aí eu não aguentei e entrei na linha:"Armandinho o Mike quer que você saia de perto da base AGORA!" e finalmente o Armando calmamente "Ah ok, eu não tinha ouvido direito o que ele estava falando!!"

Logo comecei a entender a velocidade das tiradas e a rapidez na tomada de decisões do vôo de cross de alto nível. Tinha o privilégio de poder ficar seguindo o Mike e o Armando e tomando partido das linhas mostradas por eles. Enquanto isso Mike Barber ia na frente tomando as decisões e explicando porque fazia cada escolha. A primeira perna pra São João foi de vento cruzado e fomos rápido.
Fabinho ficou pra trás, era realmente impossível acompanhar o ritmo das topless na tirada!

Entre São João e Aguaí a perna era de contra vento e fomos devagar sob um céu bem azul. Muita ralação voando de contravento! Deu um trabalho danado e eu fui ficando mais pra trás que os 2 mas continuava sempre seguindo em frente. Quando eu tirei e estava quase em Aguaí Armando e Mike já estavam lá no meio da cidade bem altos e começando a voltar. Resolvi voltar dali mesmo para ir junto com eles.

No caminho de volta as formações sobre a cordilheira da Rampa haviam escurecido bastante e era possível ver algumas chuvas no horizonte. Quando passamos sobre o aeroporto de São João novamente, dessa vez a favor do vento, já tínhamos 2 horas de vôo e, no meu terceiro dia seguido de vôo com 6 horas acumuladas eu estava sentindo meus braços muito cansados. Com 32 Km de distãncia da rampa e uns 60 Km voados no total resolvi que o cansaço e a perspectiva de aumento na turbulência não seriam boa combinação e resolvi pousar no aeroporto de São João, onde o vento havia aumentado bastante.

O pouso foi bem ruinzinho, eu vim descendo na vertical com o vento forte e no final a asa não tinha muita pressão pra arredondar, resultando num caboing de bico e uma joelhada no chão. Nenhum estrago! Na verdade eu tinha era que ter caçado o VG e acelerado bem mais, mas não houve danos e eu estava amarradão!

Depois fomos resgatar Armando e Mike que haviam completado a prova de 75Km a ainda tinham tirado pra Espírito Santo do Pinhal para um pouso confortável! Fim do 3o dia, todo mundo cabeção, show de bola !!
Os dados deste vôo estão publicados no XC Brasil no seguinte link:
O mais importante era que a condição continuava a evoluir. Armando foi dormir cedo e, como de costume, cheio de má-intenção na cabeça para o dia seguinte!
Aguardem brevemente a continuação desta história na parte 3, o que dia em que a condição realmente pipocou!!

Flight Academy com Mike Barber em Andradas - Parte 1

Aquela ida para Andradas tinha um clima de repetição... O céu cinzento na saída do Rio e muita chuva no caminho me faziam temer uma reprise da semana da etapa do Campeonato Brasileiro de Andradas, onde as chuvas praticamente não haviam dado trégua.

Eu tinha apostado minhas fichas em que, após 15 dias de chuvas quase ininterruptas na primeira quinzena de Novembro, não era possível que o tempo não abrisse um pouco. Novembro, apesar de ser no meio das chuvas de verão, costuma apresentar janelas de tempo muito bom e eu acreditava que uma dessas janelas poderia abrir após a frente-fria que se despedia do sul e ainda causava chuvas em Minas e no Rio.

Ao chegar em Andradas à meia-noite entrei no quarto do Palace Hotel reconhecendo aquele cheiro do quarto durante o brasileiro, mistura de eucalipto, umidade e mofo, e não pude deixar de ficar apreensivo. E se a frente fria ficasse estacionária como no Brasileiro?
Mesmo assim, fui dormir otimista, pois a previsão do tempo mostrava que, ao menos no Sul, a massa de ar quente começava a dominar... Alguma hora isso tinha que chegar até Andradas.


No dia seguinte acordo, abro a janela e...decepção... o teto abaixo da cordilheira, tudo molhado... Sensação de "dejá-vu" lembrando do Sidney abrindo a janela do quarto durante o brasileiro e vendo a mesma cena todos os dias, aquela cordilheira encoberta... "Que delícia!!" exclamava o incorrigível otimista "Espetáculo!" e voltava pra cama dele pra dormir!!

Tudo bem já havíamos programado um "ground school" anterior ao primeiro vôo. Uma conversa para avaliar meus conhecimentos e explicar o método que ele usava. Fomos para a Pousada do Gavião e ficamos ali conversando por horas sobre formatos de térmicas, técnicas de centralização, rapidez na tomada de escolhas, necessidade de seguir as instruções dele imediatamente para não desperdiçar o dia de vôo com um pouso prematuro!
Essa, aliás, é a principal vantagem de fazer a instrução com aerotow, como ele desenvolveu na Florida. Com o aerotow você pode perder, pousar e subir de novo, com isso ele pode coordenar até 4 alunos de uma vez. Na decolagem de rampa a gente só tem uma chance por dia. Considerando o custo de toda a operação envolvida nessa viagem, isto tornaria cada vôo bastante crítico para o sucesso da viagem. Nossa janela era de 5 dias e eu estava determinado a não bobear!

O tempo ameaçou dar uma melhorada, azulando na direção de Poços de Caldas. O teto subia ligeiramente e um pouco de céu azul dava para ser visto na direção da cordilheira! Finalmente decidimos subir. Ao chegarmos na rampa uma surpresa agradável, outras 4 asas estavam montadas. Era o Fabinho de Andradas e um pessoal de Santa Catarina: Joel, Silvio e a Belém que aparece na foto ao lado com sua bonita asa, uma Litesport 3.5 que foi a primeira Litesport neste tamanho entregue em produção pela Moyes!

Montamos nossas asas com calma, conversando sobre reconhecimento dos padrões da condição. A idéia é sempre aguardar o primeiro sinal positivo de lift antes de decolar, mas não decolar depois desse sinal, mas sim esperar para que o sinal se repita com regularidade e tentar encaixar a decolagem no ínicio de um ciclo como esse.

Estávamos prontos para a decolagem por volta das 16hs, ou 15hs da hora solar verdadeira, devido ao horário de verão. Vento frontal levinho na rampa sul. Mike decolou na frente e mostrou que havia sustentação à vontade.
O tempo estava nublado, teto por volta de 2.200mts, mas no final do vôo já era possível divisar formações de cumulus e o teto subiu mais um pouco
Fizemos um vôo local de 2 horas muito bonito, acompanhados aqui e ali pelas outras asas, que aproveitaram para também tirar uma casquinha das térmicas indicadas pelo Mike.

Este vôo foi excelente para o primeiro dia do curso, fundamental para Mike poder colocar em prática seus ensinamentos e pouco a pouco ele ia me falando tudo que eu estava fazendo errado. Para que não está habituado ao estilo dele, pode parecer até que ele está zangado com a gente, mas como ele mesmo diz repetidamente ele depende da palavra mágica "AGORA!" pra fazer a coisa funcionar, então ele não deixa passar falhas, corrige na hora, o tempo todo!!

Então era só rodar um pouquinho fora do lugar e ele gritava "Turn! Turn! AGORA!" e lá ia eu. Ou quando eu passava da térmica e ele gritava "Where are you going? You just lost 30 meters! Come back! Turn! NOW! AGORA!" E lá ia eu obedecendo!! De repente o Mike sumia, cadê ele? Tava lá no alto, tinha botado 2500 mts, eu tentava ganhar mas não conseguia, ficava por ali boiando no lift sem engatar na térmica correta e ele entrava no radio:

-Fabiano, a tua térmica tá evoluindo?
-Não
-Então o que que você está fazendo aí parado?? Get outta there! NOW!

Eu ia para outro lugar e quase sempre de fato havia outra térmica melhor evoluindo e eu engatava e começava subir mais rápido, olhava pra cima pra procurá-lo mas ele tinha sumido.

Entra de novo a voz dele pelo rádio: "bota a mão esquerda mais pra esquerda, aproxima a cabeça do canto da barra". Eu olhava para o alto mas não o via, e estava pensava "como é que ele sabe aonde que eu tô com a mão pombas?" É porque ele já tinha rodopiado pra baixo e estava voando atrás de mim! Ele faz isso várias vezes!

- Fabiano você está glissando, empurra a barra de comando pra frente um pouquinho!
- Ok!
- Empurrou demais, volta um pouquinho
- Ok!
- Agora faz a posição de high-side que eu te ensinei
- Ok!
- Now you´re looking like a pro
- Gotta look good Mike!

No final da semana eu já tinha me acostumado com a voz que parecia vir do além dando ordens: "faz isso, faz aquilo!" Fantástico!

Naturalmente não é sempre que o vôo permite tanto conforto quanto permitiu nos dois primeiros dias onde a cordilheira era como uma bóia no meio de uma piscina de oportunidades. Isso possibilitava que discutíssemos possíveis gatilhos de térmicas, então ele partia na frente para ver se funcionava. Eu partia depois e como ele chegava primeiro ele podia me dizer se havia conseguido alguma coisa, caso contrário eu voltava imediatamente para a cordilheira e a gente rediscutia as opções!

Depois de 2 horas de vôo eu estava enroscando nas térmicas com muito mais facilidade e subindo de forma muito mais eficiente! Ainda tentávamos explorar fora da cordilheira mas realmente neste dia só a cordilheira funcionava! Mike tirou para o pouso falando que ia pousar na frente para avaliar minha aproximação e meu pouso.

Ok, sem querer errar, mas também sem querer fazer nada diferente do que faço normalmente para ele poder de fato me corrigir, vim para um pouso muito fácil, na verdade meu melhor pouso até hoje no pouso sul, arredondando perfeito, em frente à árvore. Onde todo o resto da galera já tinha pousado.

Pouso Perfeito? Fui advertido de que eu tinha dado uma arrastada com o pé no capim, e que isso poderia ser perigoso caso o capim escondesse algum torrão de barro, raiz, etc. "Você tem que imaginar que o chão está meio-metro acima do capim e fazer o pouso meio-metro acima, não vai mudar nada mas você se livra de um risco de torcer o calcanhar". Ok, anotado. Conviver com Mike Barber é assim, você aprende um pequeno detalhe que melhora teu vôo o tempo todo. Armandinho falou bem: tem que andar com um caderninho!!

Na foto acima desmontamos satisfeitos. Um bom começo para a semana!


No dia seguinte o céu amanheceu azul e logo várias formações sobrevoavam Andradas. Na rampa, um vôo parecido, só que o vento, novamente frontal na rampa sul, estava bem mais forte. O céu ainda bastante encoberto já mostrava que ia abrir mais. O vento estava forte mas esperávamos que ele fosse diminuir. Isso acabou não acontecendo. Na verdade o vento estava aumentando constantemente, até que os breves ciclos de diminuição de vento pararam e o vento ficou cada vez mais forte e constante no máximo a 25 Km/h

Na foto abaixo Joel e Silvio dão um cabo na minha decolagem. O vento forte na decolagem bem inclinada do pouso sul fazia um rotor na cauda da asa e era difícil mantê-la com a inclinação correta. A asa começava a flutuar no ombro e embicar pra baixo. Seria o caso de um terceiro ajudante na quilha. Acabou não sendo necessário pois o vento era muito constante, depois de botar a asa no ombro umas 3 vezes, botei no ombro já em movimento e saí voando no 2o passo!

Dessa vez eu estava bem mais afinado e meu vôo foi bem mais eficiente. Apesar de as formações estarem melhor definidas, continuávamos não encontrando nada abaixo das nuvens que surgiam sobre o vale sul, afastadas da cordilheira.

Mike chegava a tirar bem longe, ficava catando e ficava tão baixo que eu achava que ele ia pousar mas ele sempre achava alguma coisa suficiente para voltar à cordilheira e logo estava a meu lado de novo. Ficamos nessa, não havia tirada a fazer, mas mesmo assim foi mais um excelente treino pois conseguíamos nos afastar bastante da cordilheira e pude fazer comparações na performance de meu equipamento com o dele. Na verdade eu não tenho mais desculpa nenhuma, a asa dele é super regulada, e nós pudemos comprovar que eu não devia nada em relação à ele na tirada.

Melhor do que isso, voar na Litespeed S 4 tem sido realmente uma experiência maravilhosa. A asa é simplesmente um sonho!

Continuamos o exaustivo mas recompensador treinamento por uma hora e meia e depois fomos para o pouso. Dessa vez não pousei tão bem e o motivo foi que devido ao vento mais forte eu tinha que ter acelerado bem mais.

A galera de Santa Catarina ainda estava na rampa esperando o vento diminuir e finalmente decolaram. Quando saímos do pouso sul às 18hs eles ainda estavam alto, pra lá e pra cá, depois nos falaram que só pousaram às 19:30hs tendo assistido o por-do-sol no ar! Armandinho ia chegar naquela noite e no dia seguinte a intenção era ir para a tirada pois a condição estava claramente evoluindo!

Saturday, May 20, 2006

Nova Iguaçu - Clube CEU

No dia 19 Maio de 2006 eu o Armando Pires e o Enio Wilson fomos conferir um vento Norte na Rampa de Nova Iguacu. Armando já vinha cheio de maldade para tentarmos a travessia para a Barra da Tijuca!

10 da manhã, asas na Ranger, no posto de gasolina em Nova Iguacu, conferindo com os gaioleiros para saber como estava a estrada!



Os aventureiros adrenalizados chegando na rampa!!



O vento estava forte e lateral pela esquerda, ou seja, mais de NW do que de Norte, que seria o vento preferencial para decolar. Sendo assim aguardamos até que o vento endireitasse um pouco mais!



Nesta foto podemos observar a vista da rampa e as fumaças mostram o vento NW lá embaixo!



Não tiramos fotos do vôo mas logo após a decolagem alcançamos 1600 a 1800 mts sobre o vulcão e olhávamos para a Barra que agora parecia um objetivo alcançável. Após 45 minutos de vôo local em Nova, chegou a turma dos voadores Dinossauros, nos chamaram no rádio, chegaram até nossa altura e tiraram para a Barra! Não íamos ficar fora dessa, então tiramos junto! Após a primeira sobre o Gericinó, ganhamos altura novamente sobre o Campo de pólo do exército na Av. Brasil, e atravessamos alto e rapidamente o alinhamento com a pista do Campo dos Afonsos, mas a 4.500 pés naquele ponto estávamos fora das rotas. Depois dali o vento forte nos empurrava rapidamente em direção à Barra, nova tirada nos levou a ficar sobre a Serra da Pedra Branca, sobrevoando o PROJAC. Finalmente uma última tirada garantiu o pouso no CLUBE CEU ao lado do autódromo. Foram mais ou menos 35 Km de vôo em 2 horas, descontando uns 45 minutos em vôo local sobre o vulcão!! Abaixo o tracklog do vôo:



O tracklog do vôo mostra o início do vôo com permanência sobre a Serra de Nova Iguacu, também chamada de Serra do Mendanha ou Serra do Vulcão. De lá para a Barra, atravessa-se as aprazíveis localidades de Sulacap e Realengo, depois dessa selva de pedra é um alívio alcançar a Serra da Pedra Branca. De lá após uma térmica fraca ficou fácil alcançar o Rio 2, o CEU e até a praia da Barra, mas optamos por pousar no CEU devidoo ao conforto!! Em que outro lugar a gente poderia pousar, estacionar as asas como num aeroporto, só que na grama, comer um sanduíche tomando uma água-de-coco geladíssima enquanto esperávamos o resgate chegar!! ?? Show!!!

Nova Iguaçu - Clube CEU crossing

(for the pictures please refer to the portuguese version of this text at http://flyingfab.blogspot.com/2006_05_01_archive.html)

On May 19th, 2006, me Armando Pires and Enio WIlson decided to check-out a North wind day at the Nova Iguaçu ramp. Armando was already badly intended on crossing back to the South Zone of Rio and try and land at the Barra da Tijuca beach.

So it´s 10 am and we are already parked at the gas station trying to figure out whether to climb the steep and muddy road to the ramp on my car or ride the gaiolas, which are amazing little buggies that climb the road to the ramp better than most 4x4 vehicles. We end up riding my Ford Ranger which doesn´t let us down and makes the ramp without much difficulty, I was impressed by the dangerous conditions of the road, (at that time I still didn´t know that I would have a lot of trouble with that road in the future).

photo 1

The adrenalized advernturers arrive on the ramp, the day is still clear blue.

photo 2

The wind was strong and sidewise from the left, more Northwesterly than North. North would be the best wind direction to take off from. We decided to wait for a while to see if the wind was gonna hit it more straight, but it didn´t happen.

photo 3

On the next picture we can see the view from the ramp, overlooking the suburban city of Nova Iguaçu, the smoke on the deck shows Northwest. The bomb-out lading options are at the foot of the hill, If you clear Nova Iguaçu to most directions you fly over nice landing zones. Maybe not very nice neighbourhoods though...

photo 4

We didin´t take inflight pictures but we basically reached 1600 mts right after takeoff after battling to core a twitchy thermall, and a beautiful and fresh cloud base began forming. We eventually climbed to 1.800 mts and enjoyed the local view without really going anywhere for the first 45 minutes. Then the Rio de Janeiro bunch of older pilots, who we affectionely call the "Dinosaurs", arrived at the ramp and called us on our radios to know what was going on up there. They quickly setup, took off, climbed and briefly joined us before departinto the crossing to Barra. Well we wouldn´t miss this opportunity to learn with those that knew the way so we followed, altough we couldn´t match the glide ratios of their topless (we were flying: my litesport, Armando´s U2 and Enios Old Laminar, all king-posted, I had a slight edge with the Litesport). We found anoter climb over the Gericinó preserve, and were quickly drifting over the Av. Brazil, the vusiest downtown road in Rio and it seemed amazing that I was finally doing the crossing and right over the most hostile landing territory I could count on easy landings far away, because we were high enough and the wind drifting was helping so much. We tried to cross the final approach path over the Campo dos Afonsos military airport, but at the height we were, some 4.500 ft, we were out of the routes. Soon it was time to take options again. The Dinossaurs had gone east maybe trying to reach the São Conrado beach, we were being pushed to the Serra Branca mountains and it looked a good place to search for thermalls.

Flying over the North side of the Pedra Branca, while searching for thermalls can be quite unnerving as there are no landing options to the North and you don´t want to spend too much time there before throwing it over the back towards Barra and the open landing options. Fortunately Armando found a little climb and we guaranteed another 5 hundred feet which already had my Compeo saying that I could get to the CEU Ultralight club.

Below you can see the track log for this flight:

photo 5

Reaching CEU was already beyond my expectation for that day. I dived into CEU direction with some height to spare and enjoyed very much maneuvering to lose altitude over the grassy landing runways and over the large saltwater lake. Armando was intent on reaching the beach. For that he would need height for another 2 km flying, with the problem that he would have to cross the wall of high rising buildings that front the beach. As I said that I wouldn´t try he eventually gave uop the idea. Later he would moan about it a little bit, because he was a little higher than I was. But all in all I think it was a great decision to land at CEU with all the confort of landing in the 21-03 grass runway, perfectly aligned with the Northerly wind, taxiing to the nice ultralight grassy parking spaces, breaking down in the shade, drinking icy cold coconut water from the bar. What a way to end up a friday afternoon!

photo 6