Thursday, April 19, 2012

Rob Kells Memorial 2012 - The Florida Ridge - Parte 2


Fala galera, segue mais um relato dos últimos dois dias de voos aqui no Sul da Florida, e que dias!

3a Prova Terça-feira 17 de Abril

http://www.xcbrasil.org/leonardo/flight/51816

O céu amanheceu limpo azul profundo e logo as nuvens começaram a se formar, nuvens cúmulos achatadas, parecia uma base mais alta, mas ninguém tinha certeza como estaria.

O vento continuava muito forte de Sudeste no solo mas com previsão de estar mais de Sul na camada mais alta. E foi exatamente isso que aconteceu.

Botaram uma prova de 116Km que ia para Oeste (vento través) depois para Norte (vendo lateral caudal) terminando com uma última perna para Sudoeste (no contravento).

Lá fui eu para mais uma rebocada no ventão de 25 a 30 Km/h nas rajadas.

Engatado no aviãozinho, dei aquela olhada para ver se não estava vindo aquela rajada que estremecia de 5 em 5 minutos quando a gente estava no solo.

Achei que tava bem, mandei partir, mas quando saí do carrinho acho que deixei a asa subir muito rápido, ou então já tinha uma termal brotando bem ali, mas o Dragonfly demorou muito mais do que eu para decolar e começar a subir, não tive nem tempo de picar para aliviar quando imediatamente o fusível arrebentou e tive que pousar 50 metros mais à frente.

Sem problema, na mesma hora vem um carrinho de golfe dos voluntários que trabalham na organização e me traz um cart e me reboca de volta à fila.

Entro na fila coração já batendo forte para mais uma decolagem.

Já vou trocando o fusível por outro que eu já tinha novamente deixado no bolso.

Dessa vez o reboque é tranquilo dentro do possível e solto a 500 metros e já engato numa fraquinha que só ia melhorando, junto com outras asas.

Eram 5 starts de 15 minutos ou algo assim, e as termais do start estavam bem engarrafadas.

Dei uma ciscada e acabei catando uma mais rápida botando 1800 e aí o Compeo deu sinal do primeiro start, eu nem quis saber e toquei pra frente, sabendo que estava cometendo um erro por tirar sozinho, mas eu estava bem posicionado e a condição parecia que ia melhorar.

Fui voando tirando pra frente, fiquei alto diversas vezes, e baixo poucas, mas sempre conseguia achar alguma.

Vimos vários aviões a jato na primeira perna próximo à cidade de Ft. Myers.

No primeiro pilão fiquei um pouco baixo e preocupado porque teríamos que atravessar uma área de pântano e não é legal voar pensando nos jacarés!

Por sorte encontrei uma enquanto derivava do pilão pensando o que fazer e botei na base e a coisa clareou, agora era só seguir a estrada para o Norte para o pilão do presídio.

Antes de bater o pilão do presídio fiquei alto novamente e via o primeiro pelotão tirando para o gol e foi só aí que me toquei que a maior galera tinha me ultrapassado.

Bati o pilão e tirei pro goal, já vendo que não dava para ir direto e não queria dar chance de ficar curto do goal mais uma vez, ainda mais estando no contravento, então ainda catei, achei e parei para rodar antes da tirada final.

Acabei chegando sobrando porque apesar do vento contra, havia muito calor subindo.

Pousamos num pequeno aeroporto com várias carcaças de aviões abandonados, alucinante o lugar!

Depois falei com os caras do pelotão vencedor e todos tinham feito o último start e falaram que me viram o tempo todo e que eu que meio que tinha ido puxando na frente mesmo.

Só que quando os caras me ultrapassaram eles estavam tão altos que eu nem vi.

Demorei paca voei quase 4 horas cheguei em último mas cheguei!

Assim que pousei, nem tinha tirado o capacete ainda me aparece o Konrado com uma cerva geladíssima!!
Fala sério!! Que dia!!!!!

4a Prova Quarta-feira 18 de Abril

http://www.xcbrasil.org/leonardo/flight/51865

A previsão para 4a-feira era a melhor possível, ou quase.

O vento finalmente diminuiu, e, pela manhã, quando as nuvens começaram a formar, mostravam uma solidez e uma base chapada melhor do que nos outros dias.

O calorão no solo também prometia térmicas mais fortes.

A gente já sabia que o comitê de prova seria maligno, e não deu outra, mandaram uma prova em formato de P invertido de 140Km!

Todos os dias ocorre uma reunião de pilotos às 11 da manhã, quando o Davis apresenta as condições meteorológicas e assistimos à rota da prova no Google Earth, e somos alertados sobre estradas para resgates, roubadas, etc.

Neste dia ele cantou a pedra: lift forte, ficando mais forte para o Norte, vento Sul com 20 Km/h diminuindo à tarde, e mais tarde o prenúncio da chegada de uma frente fria de Norte, vinda da Georgia, que provocaria uma diminuição no lift, provavelmente devido à entrada de Cirrus.

Pois foi exatamente o que encontramos na prova de ontem.

Na decolagem eu já estava ligadaço para não arrebentar mais nenhum fusível, e felizmente foi uma decolagem perfeita.

Quando soltei do rebocador, entrei numa térmica meio desprestigiada, estavam nela o próprio Davis que está com um braço operado e não pode voar topless, então ele estava de Falcon com King, a Jamie Shelden numa Litesport, e um russo perdido na nuvem.

Fiquei ali um pouco enquanto derivávamos para o Norte e eu via o pelotão de elite bem mais ao Sul.
Pensei que o certo seria sair dali logo e me juntar ao pelotão do Sul.

Tirei da térmica fraca em que estávamos rodando já perto da base e perdendo tempo e já chegando perto da beirada do cilindro de start, aproveitei para guardar os cabos de reboque nos bolsos e me ajeitar melhor e fui voltando.

No meio do caminho comecei a me arrepender, achei que não ia chegar na térmica dos caras, e não via nenhum sinal no caminho, pensei, vou acabar pousando de bobeira e desperdiçando o melhor dia.
Desisti e voltei com o rabo entre as pernas em direção à térmica que tinha dispensado e os caras que tinham ficado estavam lá na estratosfera.

Fui meio preocupado, até que um pouco depois da antiga térmica que eles estavam, vi uns urubus rodando de faca.

Quando bati na térmica nascente parecia um túnel vertical de vento!

O vario começou a gritar e a asa parecia que queria arrancar a barra da minha mão!

Sem sacanagem, eu subi tão rápido que em menos de 5 minutos eu tinha envaretado todo mundo da primeira térmica eles não devem ter entendido nada, primeiro eu tirei para longe e não fui para lugar nenhum, depois eles me viram voltando baixinho e de repente eu estava tendo que sair da térmica para não entubar, a apenas 1700 metros, a base parecia que seria mais baixa do que ontem.

Como a prova seria longa e como eu estava estampado bem na beirada do cilindro, achei que era melhor partir e foi o que fiz.

A primeira perna uns 40Km a favor do vento foi rápida.

As térmicas estavam fortes mas suaves dentro do possível, mas quando a gente ficava um pouco baixo, a entrada na térmica era violenta, tinha que entrar esfaqueando tudo e depois da porrada da entrada o vario gritava e a gente segurava, tinha horas que parecia que o barulho do vento tinha parado, enquanto a asa subia como se estivesse num elevador, pensei caramba, se continuar assim às 3 da tarde a coisa vai estar violenta mesmo...

Três térmicas mais à frente já estava no pilão de Lake Placid, e quando catei uma térmica antes do pilão, fiquei tão concentrado em subir que não percebi quando derivei para depois do pilão sem bater.

Estava junto com uma galera que já estava atrasada, e quando olhei para o instrumento para procurar o segundo pilão foi que percebi que já tinha passado pelo primeiro sem bater e teria sido tão fácil sair da térmica uns 500 metros só pra bater o pilão, mas agora eu teria que voltar 3 Km contra o vento para fazer o que tinha que ter feito e não fiz...

Paciência, deixei a galera e voltei para bater o pilão, como demorou para consertar essa burrice.

Mas novamente no caminho encontrei outra térmica tão forte que rapidamente estava mais alto que os que tinha deixado para recuperar o pilão.

Aí aconteceu o que a previsão falou que ia acontecer: a perna para Oeste estava sombreada com os Cirrus matando as térmicas.

Ainda era possível ver os cloud streets agora cinza pálidos, mas na direção do pilão estava bem sombrio.
Fomos tocando parando em qualquer bolhinha. Nessa hora encontrei o Konrado que tinha ficado para trás e fomos tirando com suavidade, alguns pilotos ficaram muito baixos.

Outros pousaram no caminho. Nós fomos levando entre 700 e 1400 metros de altura e conseguimos chegar na beirada do pilão.

O caminho de volta para Leste era agora bem desanimador, mas lá longe no Leste, o sombreado não tinha chegado e ainda havia sol e cloud streets, mas como chegar lá?

Da mesma forma que viemos, voltamos, na pontinha dos dedos.

Dois russos abriram pela esquerda e foram ficando baixos e tiveram que parar num zero a zero desanimador.

Eu e Konrado fomos tirando juntos um pouco abertos mais à direita.

Eu começava a focar numa fazenda onde ainda batia um pouco de sol e comecei a tirar mais à direita um pouco na frente do Konrado.

Quando estiquei o pescoço para trás para ver se o Konrado estava melhor que eu, levei um susto, pois ele parecia ter ficado de repente bem melhor do que eu.

Na verdade ele tinha parado numa fraquíssima e foi só eu não prestar atenção por alguns minutos e já não estávamos mais na mesma massa de ar.

Pensei se valia a pena voltar mas achei que não valia. Konrado depois me falou que eu tinha que ter voltado.
Mas eu já tinha feito minha cabeça, a fazenda com sol ainda estava ali na frente e um verdadeiro aeroporto atapetado de graminha verde clara me chamava.

Já seriam 120 Km de voo e eu estaria feliz se pousasse ali de qualquer jeito.

Um pouco mais perto do tapete verde e a apenas 350 metros de altura pensando em abrir o cinto reparei que já tinha uma asa ali quase desmontada.

Primeiro pensei, beleza vou ter companhia.

Depois pensei melhor e falei, já sofri isso tantas vezes, por que não usar a tática de voar em cima da cabeça do piloto pousado e ganhar bem em cima dele para causar bastante dor no pobre coitado? Achei que eu merecia porque já passei por isso tantas vezes!! hahaha

Não é que funcionou, o cara devia estar ouvindo meu vario...

E para adicionar um pouco mais de dor ao pobre piloto no chão, alguns urubus surgiram do nada e começaram a rodar comigo.

Demorou, mas voltei pro voo, ainda meio sem acreditar no que tinha acontecido!

Olhei para o relógio e eram 5 e meia da tarde, pensei "será?".

Fui derivando e tirei para o penúltimo pilão chegando a 700 metros, e não é que consegui mais uma falhadinha?

Um piloto australiano surgiu do nada e veio para cima da minha cabeça, e eu me animei, "ainda tem gente voando".

Um pouco mais à frente outra asa estava tão perto do chão que eu achei que estava fazendo a final.

Depois descobri que era o Konrado e que ele estava mesmo fazendo a curva final, quando esbarrou num pipipi e ficou e conseguiu subir milagrosamente.

Ainda faltava uma perna de 15 Km contra o vento e desta vez eu fazia questão de chegar, deixei subir até a base, a térmica foi encorpando e no final estava difícil de sair dela!

Tirei para o goal com o instrumento pedindo L/D de 8/1 para chegar, mas o que eu não tinha percebido é que essa última nuvem tinha se formado numa longa convergência e basicamente toda a tirada final foi debaixo dessa convergência, resultado cheguei no goal a mais de 1300 metros!!

Eram 6 da tarde e não parava de subir.

Tentei pousar e não conseguia, toda vez que ficava abaixo de 700 metros começava a subir tudo de novo. Acho que levei mais de 40 minutos para conseguir encontrar um pouco de descendente e pousar depois de 5 horas e 20 no ar!!!

Estava exausto, e logo que pousei tive direito a uma desmontada de gala: enquanto eu ainda descansava as pernas o Jonny e o Konrado desmontaram minha asa em 5 minutos.

Eu só tinha força para agradecer, mas não para ajudar!!

Cerveja gelada na mão e o melhor voo da minha vida para trás me deixaram em êxtase que ainda não passou!!!!!

A previsão não é muito boa para os próximos dias.
Hoje amanheceu sombreado com vento de Oeste e vamos ver o que vai acontecer!
Se tiver voo vai ter relato!

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