Tuesday, April 24, 2012

Rob Kells Memorial 2012 - The Florida Ridge - Part 3


Demorou até eu arrumar um tempinho para botar no papel os últimos dias de voo do campeonato Rob Kells Memorial!

Infelizmente não tenho tanta coisa para contar, pois meus dois últimos voos não foram longos e o outro campeonato ainda não começou devido ao mau tempo.

5a-feira 19 de Abril Prova 5

http://www.xcbrasil.org/leonardo/flight/51904

Depois do grande voo de ontem a previsão era de condição muito boa, porém com chance de tempestades à tarde.

O céu estava um pouco fechado de manhã cedo e fiquei com a impressão de que nem teríamos prova.
Tudo bem, eu estava um pouco maltratado pela maratona de 5 horas do dia anterior, para não falar nos outros dias.

Na verdade, naquele momento eu era, de todo o campeonato, o piloto que havia passado mais horas no ar, quase 16 horas em 4 dias!

Com isso, pela primeira vez me atrasei para chegar no parque de manhã e perdi a reunião dos pilotos.
Isso foi um erro.

Eu tinha me informado pela internet sobre o tempo e sabia que havia a previsão de chuva.

Mas acho que se eu tivesse chegado mais cedo, montado a asa e ido à reunião dos pilotos já com tudo pronto, eu teria ficado preparado mais cedo e faria tudo mais tranquilamente.

Ao invés disso, acabei trocando a reunião dos pilotos pela montagem, mesmo assim, quando saíram da reunião eu ainda não estava pronto.

A prova teria um start mais cedo do que nos outros dias, e quem já estava pronto colocou rapidamente a asa na fila de decolagem.

Eu me atrasei para fazer isso e fiquei bem mais atrás na fila do que nos outros dias.

A coisa funciona mais ou menos assim, a partir de um determinado horário, tipo meio dia, você está autorizado a colocar sua asa na fila, e a ordem é de quem chegar primeiro, com exceção de 5 prioridades que são os 5 melhores pilotos do campeonato e que tem direito de furar a fila na hora que quiserem e também os três pilotos do comitê de prova.

O vento tinha diminuído mais um pouco e os reboques se tornaram bem mais calmos.

A prova escolhida, dentre 3 possibilidades que tinham ficado em aberto seria uma espécie de losango fechado, ou seja com pouso no próprio parque de voo, com um total de 100Km.

É, aqui é assim, quando não está bom a prova tem 100Km...

O bônus era que quem conseguisse fazer a prova não precisaria nem desmontar a asa!

O Jonny Durand tinha me perguntado mais cedo com quem eu estava na fonia, e como eu não estava com ninguém, só com o resgate (na verdade em nenhum dia o radio tinha servido para nada), ele gentilmente me convidou a entrar na fonia do primeiro pelotão.

Quando chegou minha vez de rebocar, não só já tinham se passado dois starts, como o primeiro pelotão já tinha ido embora.

Eu ouvia ele falando entre si já no caminho e eu ainda ali no chão.

Então isso me atrapalhou um pouco, pois reboquei já com a sensação de que tinha perdido a barca.

Soltei a 450 metros quando senti que tínhamos passado por duas térmicas fortes.

Logo engatei numa consistente de 1 m/s e aproveitei para começar a me ajeitar.

Foi aí que aconteceu meu velho problema de sempre, meu cinto não fechava...

Eu sei que algum dia isso vai acontecer, já havia muito tempo que não acontecia, então eu estava um pouco apreensivo com essa fartura de cinto fechar bem, acabar logo no meio desses campeonatos.

Para resumir a história, fiquei meia hora brigando com meu cinto, e até machuquei meus dedos na fivela do zíper.

Tentei de tudo, puxando devagar com o cabo depois puxando o zíper de baixo com a mão, tentando descer mais o zíper de de cima...

Não adiantava, formava uma barriguinha na altura da braguilha e por ali o zíper não passava.

Depois de me atrapalhar e me desconcentrar dei uma meia fechada no zíper e tive que ficar fazendo corpo leve para não abrir de novo.

Uma pena, saí para a prova atrasado e com pouca ajuda à minha volta.

Fui voando em direção ao primeiro pilão e avistei uma térmica com vários pilotos do primeiro pelotão, cheguei a me animar tirando para lá, mas é lógico que eles já estavam voltando do primeiro pilão, e estavam também muito acima da próxima perna com relação ao vento, o que significava apenas que eles estavam muito bem e que eu estava muito atrasado.

Aproveitei a térmica deles, tirei para bater o pilão e voltei tentando ver se ainda enxergava alguém, mas nada, eu tinha deixado quem ficara atrás de mim para trás, e não tinha chegado em quem estava à minha frente.

Em outras palavras, eu estava voando sozinho novamente.
Por que eu vivo cometendo este erro??

Seja como for fui ficando baixo, mas, pelo menos com relação a encontrar térmicas, continuava com a confiança em alta.

Logo derivei para o meio de um pasto que tinha um poço de areia no meio e peguei uma para cima tão forte quanto as térmicas iniciais do outro dia.

É interessante como perdemos tempo com térmicas mais fracas quando estamos altos, porque é justamente nesta hora que temos potencial de voar em volta e explorar o miolo da termal.

Tipo, neste dia eu estava contente até agora com 1 m/s mas a termal que eu peguei ali tinha 4 m/s, então são essas que a gente tem que pegar, e não podemos nos dar por satisfeito s com 1 quando sabemos que o dia está com potencial de 4.

Fui voando na minha e me aproximei do segundo pilão, mas uma grande nuvem que derivava em minha direção foi engolindo a condição em volta, sombreando em baixo e tinha começado a chover embaixo dela.

Eu sabia que a chuva inevitavelmente cruzaria a 3a perna da prova, a dúvida é se eu teria velocidade para passar antes.

Não tive.

Quando bati o pilão o vento tinha aumentado um pouco, e a 3a perna era a perna de contravento, e o cumulus congestus, que mais tarde se transformaria num cb tinha estragado a formação e ao longo desta perna estava tudo azul.

Apesar de ainda encontrar térmicas perto do pilão, tive que acabar tirando para o azul no contra vento e acabei pousando com pouco quase 50 Km de voo.

Pousei perto da estrada principal.

Logo depois de colocar tudo no carro começou a chover, e quando terminei de amarrar a asa, aí a chuva desabou.

Pelo menos no resgate o timing tinha sido perfeito...

Acho que neste dia 7 pilotos chegaram, muitos foram pegos no buraco azul e tiveram distâncias parecidas com a minha.

Konrado foi um dos que chegou e fez uma excelente prova, ele parece estar adorando sua Litespeed RX 3.5, tem falado muito bem dela, disse que é realmente um novo projeto quando comparada à RS.

A previsão para o dia seguinte seria de tempestades a qualquer hora do dia.


6a-feira 20 de Abril Prova 6

http://www.xcbrasil.org/leonardo/flight/52005

Choveu muito forte a noite toda, com algumas trovoadas.

Acordei com a certeza de que não teríamos prova, mas para minha surpresa o céu estava completamente azul, e fazia um pouco mais de frio.

Fiquei com aquela sensação de que seria um daqueles dias em que forma rápido, desenvolve demais e chove logo.

As nuvens estavam bem desenvolvidas durante a reunião de pilotos, e sabíamos que o mau tempo viria de Oeste, então tentaram botar uma prova para Lake Placid que são 55 Km ao Norte, e volta até quase o meio do caminho, para um total de 74Km.

Neste dia eu sabia que o tempo seria ainda mais apertado, e tratei de fazer tudo muito rápido e fiquei pronto na hora e até consegui um lugar decente na fila.

Só que as prioridades resolveram entrar na fila na hora em que eu estava em 5o para decolar, resultado fui ficando tipo para décimo terceiro.

O que eu não sabia era que estávamos com um dragonfly a menos, pois um deles tinha dado problema no motor no dia anterior.

Esse era o motivo da fila estar tão lenta.

E as nuvens não paravam de crescer.

Como neste reboque o vento estava quase completamente parado no solo, o tempo que passávamos sobre o carrinho de reboque seria bem maior.

De fato com o vento forte dos outros dias, estava mais acostumado a começar a voar em segundos, mas desta vez percebi que o passeio seria um pouco mais longo.

Este pequeno detalhe me preparou melhor para o reboque neste dia, que foi o mais suave de todos.

Novamente engatei numa térmica com facilidade no start.
Comecei a me ajeitar, mas novamente não consegui fechar o cinto, e perdi muitos minutos fazendo força e brigando à toa, ao ponto de quase ter uma cãimbra no pescoço.

Até que finalmente o zíper arrebentou de vez e pelo menos eu pude me conformar em voar assim mesmo.
Tentei baixar o zíper de cima ao máximo e usar o pouco de zíper de baixo que consegui puxar para relaxar um pouco as pernas, mesmo assim, voar assim é muito desagradável.

Já sabia que todo mundo estava longe dali, então me conformei só em dar mais este voo, tentar curtir o voo, e ver se eu dava um pouco de sorte e conseguia ficar no ar.

O início estava forte, e eu estava até um pouco preocupado, pois sabia que era o dia mais instável e tinha receio de que as nuvens pudessem nos puxar para dentro.

Foi excesso de precaução.

Apesar de já dar para ver várias chuvas se aproximando de Oeste ao longe, as nuvens do start, mesmo altas, estavam suaves e tinham beiradas definidas para podermos ir saindo.

Logo, o super desenvolvimento de um CB a Oeste deu aquela espalhada de cirrus lá no alto e começou a sombrear o caminho da prova.

Mesmo assim fui encontrando algumas térmicas fracas.

Quando as nuvens escureceram mais, comecei a me preocupar em fazer um voo à meia altura, pois, se ouvisse trovoada, eu queria poder pousar imediatamente.

Estava a 15 Km do primeiro pilão e nesta hora sobrevoei o gol.

Olhei para a frente e vi tudo sombreado na direção do pilão, as opções de resgate por perto do pilão seriam super seguras, porém um pouco mais complicadas.

Talvez eu tomasse chuva se demorasse a ser resgatado.

Achei que já não faria diferença eu voar até o pilão ou até tentar completar a prova.

Optei por pousar por ali mesmo, com apenas 40 Km de voo.

Muita gente ficou perto do primeiro pilão nesta sombra, então acho que eu só teria conseguido mesmo um final glide de mais 8Km.

Na verdade não fez nenhuma diferença para minha posição no campeonato.

Pousei num mega pouso, rapidamente fui resgatado.
Um pouco mais tarde ouvíamos as primeiras trovoadas.

À noite tivemos uma festa de premiação e encerramento e todo mundo encheu a lata!

Sábado 21 de Abril

Acordar meio ressacado, enfiar tudo na mala, tomar café, pegar o carro, sacar dinheiro, fazer lavanderia, e dirigir para o Norte, para dar entrada no próximo campeonato o Flytec Race & Rally.

O tempo estava bem fechado, mesmo assim havia vários cloud streets no caminho debaixo de nuvens super escuras.

Quando chegamos no Wallaby, no final da tarde, caiu uma pancada de chuva forte.

Encontramos Du e Davisinho que estavam com o Raul Guerra do Equador.

Dirigimos para o Quest, cerca de meia hora mais ao Norte para a primeira reunião de pilotos.

Nesta reunião nos foi dito que previsão de tempo era bastante ruim pelo menos para os próximos dois dias.

Os organizadores resolveram que iríamos nos encontrar novamente no Quest pela manhã para resolver o que fazer.

Aproveitei para procurar o Kraig Coomber da Moyes, e deixar meu cinto com ele para ver se ele poderia ver o assunto do zíper.

Thursday, April 19, 2012

Rob Kells Memorial 2012 - The Florida Ridge - Parte 2


Fala galera, segue mais um relato dos últimos dois dias de voos aqui no Sul da Florida, e que dias!

3a Prova Terça-feira 17 de Abril

http://www.xcbrasil.org/leonardo/flight/51816

O céu amanheceu limpo azul profundo e logo as nuvens começaram a se formar, nuvens cúmulos achatadas, parecia uma base mais alta, mas ninguém tinha certeza como estaria.

O vento continuava muito forte de Sudeste no solo mas com previsão de estar mais de Sul na camada mais alta. E foi exatamente isso que aconteceu.

Botaram uma prova de 116Km que ia para Oeste (vento través) depois para Norte (vendo lateral caudal) terminando com uma última perna para Sudoeste (no contravento).

Lá fui eu para mais uma rebocada no ventão de 25 a 30 Km/h nas rajadas.

Engatado no aviãozinho, dei aquela olhada para ver se não estava vindo aquela rajada que estremecia de 5 em 5 minutos quando a gente estava no solo.

Achei que tava bem, mandei partir, mas quando saí do carrinho acho que deixei a asa subir muito rápido, ou então já tinha uma termal brotando bem ali, mas o Dragonfly demorou muito mais do que eu para decolar e começar a subir, não tive nem tempo de picar para aliviar quando imediatamente o fusível arrebentou e tive que pousar 50 metros mais à frente.

Sem problema, na mesma hora vem um carrinho de golfe dos voluntários que trabalham na organização e me traz um cart e me reboca de volta à fila.

Entro na fila coração já batendo forte para mais uma decolagem.

Já vou trocando o fusível por outro que eu já tinha novamente deixado no bolso.

Dessa vez o reboque é tranquilo dentro do possível e solto a 500 metros e já engato numa fraquinha que só ia melhorando, junto com outras asas.

Eram 5 starts de 15 minutos ou algo assim, e as termais do start estavam bem engarrafadas.

Dei uma ciscada e acabei catando uma mais rápida botando 1800 e aí o Compeo deu sinal do primeiro start, eu nem quis saber e toquei pra frente, sabendo que estava cometendo um erro por tirar sozinho, mas eu estava bem posicionado e a condição parecia que ia melhorar.

Fui voando tirando pra frente, fiquei alto diversas vezes, e baixo poucas, mas sempre conseguia achar alguma.

Vimos vários aviões a jato na primeira perna próximo à cidade de Ft. Myers.

No primeiro pilão fiquei um pouco baixo e preocupado porque teríamos que atravessar uma área de pântano e não é legal voar pensando nos jacarés!

Por sorte encontrei uma enquanto derivava do pilão pensando o que fazer e botei na base e a coisa clareou, agora era só seguir a estrada para o Norte para o pilão do presídio.

Antes de bater o pilão do presídio fiquei alto novamente e via o primeiro pelotão tirando para o gol e foi só aí que me toquei que a maior galera tinha me ultrapassado.

Bati o pilão e tirei pro goal, já vendo que não dava para ir direto e não queria dar chance de ficar curto do goal mais uma vez, ainda mais estando no contravento, então ainda catei, achei e parei para rodar antes da tirada final.

Acabei chegando sobrando porque apesar do vento contra, havia muito calor subindo.

Pousamos num pequeno aeroporto com várias carcaças de aviões abandonados, alucinante o lugar!

Depois falei com os caras do pelotão vencedor e todos tinham feito o último start e falaram que me viram o tempo todo e que eu que meio que tinha ido puxando na frente mesmo.

Só que quando os caras me ultrapassaram eles estavam tão altos que eu nem vi.

Demorei paca voei quase 4 horas cheguei em último mas cheguei!

Assim que pousei, nem tinha tirado o capacete ainda me aparece o Konrado com uma cerva geladíssima!!
Fala sério!! Que dia!!!!!

4a Prova Quarta-feira 18 de Abril

http://www.xcbrasil.org/leonardo/flight/51865

A previsão para 4a-feira era a melhor possível, ou quase.

O vento finalmente diminuiu, e, pela manhã, quando as nuvens começaram a formar, mostravam uma solidez e uma base chapada melhor do que nos outros dias.

O calorão no solo também prometia térmicas mais fortes.

A gente já sabia que o comitê de prova seria maligno, e não deu outra, mandaram uma prova em formato de P invertido de 140Km!

Todos os dias ocorre uma reunião de pilotos às 11 da manhã, quando o Davis apresenta as condições meteorológicas e assistimos à rota da prova no Google Earth, e somos alertados sobre estradas para resgates, roubadas, etc.

Neste dia ele cantou a pedra: lift forte, ficando mais forte para o Norte, vento Sul com 20 Km/h diminuindo à tarde, e mais tarde o prenúncio da chegada de uma frente fria de Norte, vinda da Georgia, que provocaria uma diminuição no lift, provavelmente devido à entrada de Cirrus.

Pois foi exatamente o que encontramos na prova de ontem.

Na decolagem eu já estava ligadaço para não arrebentar mais nenhum fusível, e felizmente foi uma decolagem perfeita.

Quando soltei do rebocador, entrei numa térmica meio desprestigiada, estavam nela o próprio Davis que está com um braço operado e não pode voar topless, então ele estava de Falcon com King, a Jamie Shelden numa Litesport, e um russo perdido na nuvem.

Fiquei ali um pouco enquanto derivávamos para o Norte e eu via o pelotão de elite bem mais ao Sul.
Pensei que o certo seria sair dali logo e me juntar ao pelotão do Sul.

Tirei da térmica fraca em que estávamos rodando já perto da base e perdendo tempo e já chegando perto da beirada do cilindro de start, aproveitei para guardar os cabos de reboque nos bolsos e me ajeitar melhor e fui voltando.

No meio do caminho comecei a me arrepender, achei que não ia chegar na térmica dos caras, e não via nenhum sinal no caminho, pensei, vou acabar pousando de bobeira e desperdiçando o melhor dia.
Desisti e voltei com o rabo entre as pernas em direção à térmica que tinha dispensado e os caras que tinham ficado estavam lá na estratosfera.

Fui meio preocupado, até que um pouco depois da antiga térmica que eles estavam, vi uns urubus rodando de faca.

Quando bati na térmica nascente parecia um túnel vertical de vento!

O vario começou a gritar e a asa parecia que queria arrancar a barra da minha mão!

Sem sacanagem, eu subi tão rápido que em menos de 5 minutos eu tinha envaretado todo mundo da primeira térmica eles não devem ter entendido nada, primeiro eu tirei para longe e não fui para lugar nenhum, depois eles me viram voltando baixinho e de repente eu estava tendo que sair da térmica para não entubar, a apenas 1700 metros, a base parecia que seria mais baixa do que ontem.

Como a prova seria longa e como eu estava estampado bem na beirada do cilindro, achei que era melhor partir e foi o que fiz.

A primeira perna uns 40Km a favor do vento foi rápida.

As térmicas estavam fortes mas suaves dentro do possível, mas quando a gente ficava um pouco baixo, a entrada na térmica era violenta, tinha que entrar esfaqueando tudo e depois da porrada da entrada o vario gritava e a gente segurava, tinha horas que parecia que o barulho do vento tinha parado, enquanto a asa subia como se estivesse num elevador, pensei caramba, se continuar assim às 3 da tarde a coisa vai estar violenta mesmo...

Três térmicas mais à frente já estava no pilão de Lake Placid, e quando catei uma térmica antes do pilão, fiquei tão concentrado em subir que não percebi quando derivei para depois do pilão sem bater.

Estava junto com uma galera que já estava atrasada, e quando olhei para o instrumento para procurar o segundo pilão foi que percebi que já tinha passado pelo primeiro sem bater e teria sido tão fácil sair da térmica uns 500 metros só pra bater o pilão, mas agora eu teria que voltar 3 Km contra o vento para fazer o que tinha que ter feito e não fiz...

Paciência, deixei a galera e voltei para bater o pilão, como demorou para consertar essa burrice.

Mas novamente no caminho encontrei outra térmica tão forte que rapidamente estava mais alto que os que tinha deixado para recuperar o pilão.

Aí aconteceu o que a previsão falou que ia acontecer: a perna para Oeste estava sombreada com os Cirrus matando as térmicas.

Ainda era possível ver os cloud streets agora cinza pálidos, mas na direção do pilão estava bem sombrio.
Fomos tocando parando em qualquer bolhinha. Nessa hora encontrei o Konrado que tinha ficado para trás e fomos tirando com suavidade, alguns pilotos ficaram muito baixos.

Outros pousaram no caminho. Nós fomos levando entre 700 e 1400 metros de altura e conseguimos chegar na beirada do pilão.

O caminho de volta para Leste era agora bem desanimador, mas lá longe no Leste, o sombreado não tinha chegado e ainda havia sol e cloud streets, mas como chegar lá?

Da mesma forma que viemos, voltamos, na pontinha dos dedos.

Dois russos abriram pela esquerda e foram ficando baixos e tiveram que parar num zero a zero desanimador.

Eu e Konrado fomos tirando juntos um pouco abertos mais à direita.

Eu começava a focar numa fazenda onde ainda batia um pouco de sol e comecei a tirar mais à direita um pouco na frente do Konrado.

Quando estiquei o pescoço para trás para ver se o Konrado estava melhor que eu, levei um susto, pois ele parecia ter ficado de repente bem melhor do que eu.

Na verdade ele tinha parado numa fraquíssima e foi só eu não prestar atenção por alguns minutos e já não estávamos mais na mesma massa de ar.

Pensei se valia a pena voltar mas achei que não valia. Konrado depois me falou que eu tinha que ter voltado.
Mas eu já tinha feito minha cabeça, a fazenda com sol ainda estava ali na frente e um verdadeiro aeroporto atapetado de graminha verde clara me chamava.

Já seriam 120 Km de voo e eu estaria feliz se pousasse ali de qualquer jeito.

Um pouco mais perto do tapete verde e a apenas 350 metros de altura pensando em abrir o cinto reparei que já tinha uma asa ali quase desmontada.

Primeiro pensei, beleza vou ter companhia.

Depois pensei melhor e falei, já sofri isso tantas vezes, por que não usar a tática de voar em cima da cabeça do piloto pousado e ganhar bem em cima dele para causar bastante dor no pobre coitado? Achei que eu merecia porque já passei por isso tantas vezes!! hahaha

Não é que funcionou, o cara devia estar ouvindo meu vario...

E para adicionar um pouco mais de dor ao pobre piloto no chão, alguns urubus surgiram do nada e começaram a rodar comigo.

Demorou, mas voltei pro voo, ainda meio sem acreditar no que tinha acontecido!

Olhei para o relógio e eram 5 e meia da tarde, pensei "será?".

Fui derivando e tirei para o penúltimo pilão chegando a 700 metros, e não é que consegui mais uma falhadinha?

Um piloto australiano surgiu do nada e veio para cima da minha cabeça, e eu me animei, "ainda tem gente voando".

Um pouco mais à frente outra asa estava tão perto do chão que eu achei que estava fazendo a final.

Depois descobri que era o Konrado e que ele estava mesmo fazendo a curva final, quando esbarrou num pipipi e ficou e conseguiu subir milagrosamente.

Ainda faltava uma perna de 15 Km contra o vento e desta vez eu fazia questão de chegar, deixei subir até a base, a térmica foi encorpando e no final estava difícil de sair dela!

Tirei para o goal com o instrumento pedindo L/D de 8/1 para chegar, mas o que eu não tinha percebido é que essa última nuvem tinha se formado numa longa convergência e basicamente toda a tirada final foi debaixo dessa convergência, resultado cheguei no goal a mais de 1300 metros!!

Eram 6 da tarde e não parava de subir.

Tentei pousar e não conseguia, toda vez que ficava abaixo de 700 metros começava a subir tudo de novo. Acho que levei mais de 40 minutos para conseguir encontrar um pouco de descendente e pousar depois de 5 horas e 20 no ar!!!

Estava exausto, e logo que pousei tive direito a uma desmontada de gala: enquanto eu ainda descansava as pernas o Jonny e o Konrado desmontaram minha asa em 5 minutos.

Eu só tinha força para agradecer, mas não para ajudar!!

Cerveja gelada na mão e o melhor voo da minha vida para trás me deixaram em êxtase que ainda não passou!!!!!

A previsão não é muito boa para os próximos dias.
Hoje amanheceu sombreado com vento de Oeste e vamos ver o que vai acontecer!
Se tiver voo vai ter relato!

Tuesday, April 17, 2012

Rob Kells Memorial 2012 - The Florida Ridge - Parte 1


Estes são os relatos que postei durante minha recente participação em dois campeonatos de asa-delta na Florida em Abril de 2012!

Fala rapaziada, estamos aqui na Florida só eu e o Konrado dando uma representada brazuca, mas acho que na semana que vem tem mais brasileiros vindo para cá participar do Rallye.

1o dia Sábado 14/4
Choveu e ventou muito com a passagem de uma tempestade.

2o dia Domingo 15/4
Céu amanheceu azul mas logo ventava bem forte ainda de manhã cedo.

Alguns pilotos ficaram na dúvida se teríamos prova, mas o comitê, agressivamente até, resolveu colocar uma prova de 122Km para Oeste e depois Noroeste.

O comitê acertou porque na hora da decolagem o vento diminuiu um pouco, mas foi um reboque nervoso.

A primeira perna de Oeste até o primeiro pilão foi bem rápida e parecia que teríamos lift farto o tempo todo, minha maior ascendente registrada constante de mais de 10 segundos foi de 14,6m/s!!
Mas...

Ao chegar no primeiro pilão veio um sombreado enorme, todo mundo que não tinha passado no primeiro pelotão encalhou.

Uns cinco que estavam mais baixos do que eu no primeiro pilão pousaram, mas eu resisti e consegui voltar para o voo.

Infelizmente o gás acabou quando faltavam ainda uns 15 Km para o Gol, mesmo assim foi um voo bem legal e muito trabalhoso.

Pouso gigantesco e resgate chegando 10 minutos depois graças ao Spot.
Cerveja gelada na mão e 2 horas no carro voltando para chegar 9 da noite no Florida Ridge ainda sem ter almoçado.

3o dia Segunda 16/4
Muito vento novamente pela manhã, difícil até de montar a asa.

Estava bonito de manhã, mas de repente formou um sombreado grande de alto cumulus, esfriou e a galera resolveu encurtar a prova original de 121Km para 85Km.

Reboque turbulento pacacete, estava há uns 200 metros adrenado 100% focado no rebocador quando de repente ele toma uma forte pra esquerda e eu tomo forte pra direita e cadê que eu tenho alavanca pra voltar pra trás do aviãozinho, minha situação ficou crítica mas antes que eu tivesse tempo de soltar o engate meu fusível estourou, como tinha que estourar e lá vou eu ter que pousar no meio da galera decolando.

Por sorte pousei perto da fila, na verdade foi o vento forte que me segurou e me fez pousar bem curtinho.
Por merecimento nem precisei me desconectar da asa, foi só pegar o fusível reserva que eu tinha deixado à mão e trocar.

Em 15 minutos estava deitado para nova decolagem, totalmente adrenalizado pelo primeiro e rapidíssimo voo.

Decolei ok, reboquei ok, soltei e consegui me engatar com muita dificuldade.

Vi que só tinham ficado uns 5 pilotos comigo na última leva, mas rapidamente nos separamos e tive que fazer o voo todo sozinho.

Evitei o pântano contornando pela direita, ou seja para leste, contra o vento, mas eu conseguia enxergar o primeiro pelotão pela esquerda o que não me parecia a melhor rota, mas óbvio que quem estava enganado era eu.

As primeiras térmicas foram boas, mas de repente fui ficando baixo e nada e nada até que abri o cinto e fiz uma última tentativa derivando meio que pra roubada mas eu e um urubu americano evoluímos e botei 1600 metros e achei que iria me dar bem.

Que nada...

Cheguei no primeiro pilão que ficava a 70Km do start de final com o cinto aberto novamente, e engatei numa muito turbulenta, mas salvou, continuei o voo, e de repente alguns que ficaram na última leva apareceram, fiquei melhor do que 3 caras e pior do que outro.

Todos abaixo de mim pousaram o que estava acima era o Wolfie Seiss e fomos tirando em direção ao gol, o instrumento chegou a dizer que eu chegaria, mas rapidamente o vento de 30Km/h foi me tirando do curso e não deu.

Talvez tivesse dado para ir mais uns 3 Km no glide mas os pousos acabaram e acabei tendo que ficar no último pouso razoável.

Voei 82Km de 85. Resgate chegou em 20 minutos, cerveja na mão, etc, etc.  Show!!!!

O Wolfie jogou pra cima de uma floresta meio sem alternativa, a favor do vento e se afastando do gol.
Se ele tiver chegado o cara tirou um coelho gigante da cartola e eu queria saber fazer isso também.

Konrado fez um gol muito rápido em 1:44 e está em 7o no resultado provisório.

TEM QUE VOAR RÁPIDO SENÃO NÃO CHEGA!!!!!