Voo do Parque, com vento Sul na rampa e algumas formações, apesar de o início ter sido batalhado. Nader e Bique se adiantaram e cruzaram sobre a rampa da Siméria, continuando sobre a serra. Eu fiquei pra trás e, depois de pegar uma boa sobre Fragoso, resolvi voar mais aberto. A derivada começou a mostrar que o vôo era de Sudoeste e fui deixando derivar sobre a parte de fora da serra, perdendo contato no radio com o resto da turma.
Comecei a pegar térmicas cadenciadas, e entrei num ritmo de vôo excelente. A condição foi ficando melhor ainda à medida em que eu me afastava da serra. Logo percebi que chegando ao braço da cordilheira que desce ali depois de Cachoeiras de Macacu eu teria que tomar uma decisão: terminar o vôo ou voar por cima da cordilheira, ou tentar contornar pela direita.
Acabei resolvendo terminar o vôo, porque eu não sabia onde aquela cadeia de morros iria dar. Depois de olhar hoje no XC percebo que a melhor decisão teria sido contornar pela direita, mesmo que eu tivesse que pousar numa terra de marlboro que tem ali. Se eu soubesse que já estava me aproximando de Rio Bonito, justamente onde tinha dado o vôo de Sampaio na semana passada, eu teria ficado pilhado para tentar chegar em Rio Bonito. Sinceramente acredito que ontem dava para ter feito Petro-Sampaio, apesar de ter que bater um pouco de través para contornar o braço da serrinha, ou então encarar por cima da serrinha, que achei meio sinistro.
Sobre o pouso, erros e lições:
Ao chegar sobre Papucaia ainda a confortáveis 700mts eu tinha várias opções de pouso, mas cometi erros.
Erro 1: Escolhi um pouso que era ao lado da rodovia e tinha comércio e posto de gasolina nas proximidades. O pouso era relativamente pequeno e no sopé do morro, com uma pequena inclinação. Havia vários pousos gigantescos alguns quiilômetros afastados da cidade, eu poderia muito bem ter pousado num pouso grande e andado até a cidade, ou esperado o resgate.
Lição: Estas palavras eu ouvi do Nader ontem: "Roubada é se machucar. Pousar longe, ter que pegar carona, esperar o resgate até de noite, nada disso é roubada. Roubada é se machucar."
Erro 2: Eu estava muito confiante no meu pouso e completamente convencido de que o vento lá embaixo teria que ser Sudoeste ou perto disso. Ali perto havia várias fogueiras e eu percebi fumaças indo em diferentes direções. Não dei muita atenção e permaneci confiando no vento do Compeo, que acusava, corretamente, que o vento era Sudoeste. Mas as fumaças divergentes deveriam ter me alertado para o fato de que poderia haver rotores ou um vento diferente na camada de baixo.
Lição: Não esperar que o vento esteja como você planejou, usar os indicadores locais até o último momento possível para determinar a direção do pouso.
Erro 3: joguei o paraca de arrasto porque o mato era um pouco alto e eu não queria ter que correr. O paraca de arrasto me trouxe para o chão muito rápido e eu caboinguei no chão sem chance de dar um última flutuada de efeito solo ou tentar correr.
Lição: não jogar o arrasto com vento de cauda, acho melhor tentar um suspiro no efeito solo. Essa é mais difícil porque depois que já jogou o arrasto nem sempre dá pra mudar a direção do pouso.
De fato o vento tinha entrado de cauda. Depois que pousei e fiquei ali sentado percebi que o vento entrava forte de Leste-Sudeste, nos ciclos de térmica ou pelo efeito dos morros ali atrás. Eu achei que estava pousando de Sudoeste limpo e estava pousando de Sudeste rotorizado...
Na hora do pouso lembro de ter pensado "algo não está certo" o chão estava passando depressa e o vento praticamente zerado nos meus ouvidos. Vi que era vento de cauda e que ia crashar. Estolei o máximo que deu e me encolhi.
A asa bateu primeiro com a armação e depois com o leading no chão que era capim com terra um pouco fofa e amorteceu bem. Eu passei limpo com os braços, como já fiz antes sem nenhum problema. Mas desta vez minha perna bateu com muita força na barra direita. Na hora senti muita dor e fiquei até com medo de me levantar e olhar minha perna. Achei que o cabo pudesse ter aberto um rasgo em minha perna, mas logo vi que não era tão ruim. Estava muito inchado mas não saía sangue.
Quando consegui me levantar vi que dava para mancar e consegui sair do cinto e fiquei sentado ali pensando no que fazer. Consegui me levantar e coloquei a asa em pé, nem que fosse para, pelo menos, manter um pouco de elegância. Dei sorte e minha asa ficou intacta, capim com terra meio fofa nem marcou o leading.
Dez minutos depois, dois menininhos, como sempre, apareceram, e eu perguntei a eles se havia algum lugar onde desse para comprar gelo ali por perto. Eles falaram que tinha e eu dei 10 pratas para eles trazerem gelo e 15 minutos depois eu já estava colocando gelo na pancada, o que eu acho que foi fundamental para que eu não estivesse pior hoje.
Na foto abaixo vocês vêem um de meus anjos salvadores, o irmão dele estava tirando a foto.
Na outra foto a volta pela ponte Rio Niterói com um CB no interior à direita.
Vou pensar em fazer para mim uma calça com proteção para a coxa toda, tipo uma “tornozeleira de coxa”. Fiquei muito preocupado de, no caso de um cabo de aço fino como os de nossas asas atuais, cortar nossa perna.
Galera vamos voar com segurança. Desculpem não ter feito minha parte ontem.
2 comments:
Fabiano, muito bacana seu relato e muito importante para refletirmos à respeito de nossas decisões.
Desejo rápida recuperação e logo mais estaremos voando juntos.
Abraço e bons ventos,
Indiana
Fabiano, parabéns pelo vôo e pela humildade de reconhcer os erros. Para alguns isso é muito difícil mas para os que querem evoluir de verdade isso é fundamental.
Obrigado pelo relato.
Abs e bons voos,
Pena
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