Galera, decolamos hoje de Sampaio da rampa Norte, por volta de 2 da tarde, eu, Marcello e Enio, e uns outros 15 pilotos de parapa também. O céu estava mais limpo do que aqui no Rio e, por volta de 13 hs, as formações que só estavam aparecendo ao longe, começaram a se aproximar da cordilheira da rampa. O vento era de Norte devagar quase parando, mas entravam ciclos térmicos muito fraquinhos, porém facilmente identificáveis que facilitaram a decolagem, que pode ser arisca em Sampaio.
O Gilson, o Romeo e o João, garoto de 15 anos, decolaram da nova rampa Nordeste que o Gilson desbravou.
Nosso resgate tricolor, o Poder, fez jus à alcunha e montou as asas rapidamente.
Decolamos em sequência, Enio, eu e o Marcello. Enio perdeu o ciclo bom, por questão de segundos, e acabou ficando baixo à direita, eu que decolei 1 minuto depois dele, estava ganhando confortavelmente à direita da rampa, e o Marcello que decolou em terceiro estava mais alto ainda.
Nas fotos abaixo, tiradas pelo Marcello logo após a decolagem, Marcello está mais alto do que eu e eu estou ralando próximo ao morro da decolagem de Norte e de Nordeste. A decolagem de Norte é o grande gramado à direita da foto, e a decolagem de Nordeste é o pequeno descampado que aparece exatamente acima do mosquetão do Marcello.
Logo os parapas decolaram em massa e enroscamos junto com todos eles, que formavam um verdadeiro desenho da térmica, facilitando muito a ganhada inicial.
Eu pensei em tentar repetir o vôo que tinha feito em Sampaio no verão passado, seguindo a cordilheira na direção de Maricá. Com isso fui deixando o vento Nordeste me derivar sobre a cordilheira, tática que mais uma vez funcionou. Quando consegui me manter acima de mil metros deslizando sobre a cordilheira é que fui reparar que o Marcello tinha perdido a derivada e ficara tendo que batalhar na altura da rampa.
Nesta foto Marcello consegue pegar bem o lindo panorama de Sampaio neste dia, notem que as formações estavam bonitas sobre a cordilheira, mas à direita da cordilheira ao fundo, as coisas estavam azuis demais.
Não tive escolha senão seguir meu plano de vôo. Reparei que o fundo da baía estava azul, o que não favorecia cruzar sobre Itaboraí depois de Maricá, e como belas formações de nuvens se aproximavam de Norte, assim que botei 1.300 m achei melhor tentar sair logo da cordilheira e tentar fazer distância. A tática de seguir as linhas de nuvens foi dando certo, não sem alguma batalha.
Uma das vantagens dessa região é que tem muitos urubus e gaviões voando junto. Eles me ajudaram muito neste vôo.A tirada era na direção Norte-Nordeste, e o vento estava vindo exatamente deste quadrante, então o progresso foi um pouco lento.
Na cidade de Tinguá fiquei baixo, mas foi só sobrevoar um pouco a cidade que a térmica me achou. Eu nem tinha reparado na revoada de urubus que estavam subindo embaixo de mim. Enchi o tanque junto com meus amigos penados e fomos para 1.250 m.
Novamente analisei minha opções. Seguir para a direção da serra de Petrópolis parecia impossível porque estava tudo azul naquela direção, onde estava bonito continuava sendo no contravento.
No contravento fui sem saber direito para onde, a sotavento da cordilheira de Rio Bonito, que estava com uma linda formação em cima, mas não daria para alcançá-la porque com certeza ela estava sendo alimentada pelo vento que batia do outro lado. Mesmo assim, como eu ainda estava relativamente alto, tentei sobrevoar o rotor dessa cordilheira na esperança de conseguir entrar de penetra em algum elevador para a base da nuvem. Não deu certo.
Comecei a ficar baixo atrás da cordilheira e quanto mais baixo, mais descendentes, achei melhor sair logo dali e fui para um pouso depois da cidade de Rio Bonito. Novamente usei a tática de voar sobre a cidade. Naquele calorão as cidades no meio de muito verde eram térmicas garantidas. Novamente fiquei alto junto com uma porrada de urubus.
Olhei para o que já tinha feito e pensei se não seria uma boa idéia tentar fechar o circuito ao invés de prosseguir batalhando contra o vento, sem nem saber para onde. A essa altura eu não sabia se os caras tinham recuperado e se já não estavam voando na direção do Rio e o resgate não estaria mais em Sampaio. Mesmo assim, voar a favor do vento me parecia uma grande idéia àquela altura.
Fui voando confortavelmente à direita da Via Lagos. Toda a planície na direção de Búzios estava formada, mas seria sempre de contra vento para chegar naquele playground. Achei melhor tentar pousar no oficial de Sampaio, ou então se ganhasse mais uma na serra na direção de Saquarema, poderia ir pousar na praia.
Mas à medida que me reaproximava de Sampaio chamei no radio e obtive uma resposta falhada que indicava que a galera ainda devia estar por ali. Isso tornou a decisão mais fácil. Já estava bastante cansado e com dor no pescoço e resolvi tirar num L/D folgado até o oficial de Sampaio.
Como sempre, quando a gente já não quer mais voar, tinha muitos urubus indicando térmicas por ali, mas pousei tranqüilo com 2:20hs de vôo, ao lado da galera que me birutou na direção do pouso oficial.
Lição do dia: não perder a primeira térmica. Quem ficava abaixo da rampa não conseguia voltar. Quem passava pra cima comia farofa em Sampaio!
Galera Sampaio é muito seguro de voar, muito bonito e oferece muitas opções de pousos enormes.
Se não engatar tem água de coco gelada perto do pouso e cachoeira ali do lado.