Thursday, October 09, 2008

Dicas de Regulagem da Litespeed

(SÉTIMA REVISÃO 12-08-2008)
Tradução: Fabiano Nahoum

Advertência

Você é o piloto de sua asa. É sua responsabilidade saber como está regulada a sua asa. Não modifique a regulagem de fábrica a menos que você esteja preparado para assumir a responsabilidade deste ato.

Créditos

Os pilotos da EQUIPE MOYES contribuíram com seu trabalho, conhecimento e experiência, únicos, para criar este documento sobre as “Dicas de Regulagem da Litespeed”.

Sobre este documento

Uma asa-delta é uma máquina complexa, e regulá-la é uma atividade complexa. Este documento contém parte da sabedoria coletada pelos pilotos da EQUIPE MOYES. É importante entender que esta “sabedoria” não se trata de fatos científicos. Estas “Dicas de Regulagem da Litespeed” são baseadas em experiência, intuição, rumores, e um bocado de superstição. Por favor, tenha isto em mente quando estiver lendo este texto.

Lembre-se também que a mudança de um parâmetro em sua asa irá afetar de muitas maneiras a forma como a asa se comporta; regular uma asa não é como mexer no controle de agudos de seu som estéreo e apenas ouvir os agudos se modificarem. É mais como mexer nos agudos e ouvir os agudos mudarem, os graves mudarem um pouco também, o volume aumentar, e êpa, alguém inseriu um violão no meio de meu disco de Mozart.

Na maior parte dos casos, as “Dicas de Regulagem da Litespeed” apenas contém o que se acredita ser o efeito principal da mudança de um ajuste.

Terminologia

“Dive Strut” é sinônimo de “Sprogs” e foi traduzido como “Recuperador”.

Concentric Ring” é sinônimo de “Excenter” e foi traduzido como “Anel Concêntrico”.

"VG" significa “Variable Geometry” e quer dizer “Geometria Variável” tendo sido traduzido neste texto simplesmente como “Marcha”.

Um aviso sobre Segurança – Leia Atentamente

Performance e Segurança (em termos de estabilidade de momento angular - “pitch stability”) representam dois interesses conflitantes numa asa-delta; através do sacrifício de performance uma asa pode se tornar mais segura, e através do sacrifício da segurança uma asa pode ser levada a desempenhar com melhor performance.

Hoje já não é mais segredo o que faz a diferença: abaixar o ângulo dos recuperadores reduz a segurança e melhora a performance.

Então, o quão baixo ainda é seguro?

Há uma resposta muito simples para isso: a regulagem certificada produz um excelente compromisso entre performance e segurança. É para isso que ela é feita.

O MANUAL FORNECE OS LIMITES PARA A REGULAGEM CERTIFICADA DE UMA ASA - LEIA-O E USE-O!

Eu sou bom, eu sou talentoso, e eu quero ser um piloto de ponta. Até que ponto eu posso baixar meus recuperadores?

Não necessariamente são os recuperadores que têm que ser alterados. Você tem que aprender a regular uma asa para competições com ajuda de um piloto de competição. Isto ocorre porque cada asa é diferente, e uma asa precisa ser regulada pela sensibilidade; esta sensibilidade não pode ser aprendida a partir de um texto como este. Da próxima vez em que você for a uma competição, procure por um piloto da EQUIPE MOYES e não hesite em perturbá-lo com questões. A menos que ele tenha tido um dia ruim, ele ficará satisfeito em ajudá-lo (oferecer uma cerveja a ele pode ajudar também).

Outra idéia é comprar uma asa usada de um bom piloto de competição. Provavelmente a asa está ajeitada e voa bem, especialmente se você comprá-la ao fim de uma temporada de competição.

Há alguma outra forma de aumentar a performance, sem sacrificar a segurança?

Felizmente, há outra maneira de melhorar performance sem diminuir a segurança: certifique-se de solicitar as melhores opções para sua asa, e isto inclui: barras ZOOM, tala de bordo de ataque de carbono (“viagra”), vela de Mylar, canoinha aerodinâmica, e um cinto de última geração. Juntos, estes itens fazem uma grande diferença na performance e é a maneira mais segura de ganhar mais desempenho.

Estratégia de Regulagem

Este capítulo sugere uma estratégia para como aplicar a Matriz de Regulagem da Moyes. Este assunto é altamente subjetivo e pessoal. Se você não gostar de algumas sugestões aqui apresentadas, ignore-as.

Esta estratégia é baseada no pressuposto de que uma asa tem que fazer duas coisas bem: ganhar (térmicas) e tirar.
Dica: mantenha um registro das modificações efetuadas, desta foram é fácil retroceder para uma configuração boa, caso uma nova regulagem não funcione.

Primeiro Passo: Certifique-se de que a asa está simétrica

Verifique sua asa quanto à simetria (veja o capítulo Verificando a Simetria), e ajuste se necessário. Ter uma asa simétrica com o ângulo correto nos recuperadores (de acordo com o manual) é um bom ponto de partida para qualquer atividade de regulagem.

Segundo Passo: Regular para térmicas

Quando enroscando sua marcha está normalmente totalmente solta ou cerca de 1/3 caçada. Isto significa que a vela não é tão afetada pelos recuperadores, os recuperadores tenderão a flutuar dentro da vela, e a vela será mais afetada pelo ajuste dos anéis excêntricos. Tente regular primeiro usando: os anéis excêntricos, a tensão no bordo de ataque e a localização do centro de gravidade (hang-point); para fazer a asa enroscar sem esforço. Como um segundo passo, experimente a curvatura da tala transversal de ponta (evite ter que fazer isso).

Terceiro Passo: Regular para tiradas

Numa tirada a marcha estará normalmente entre ¾ e totalmente caçada. Isto significa que a vela estará pressionando duramente contra os recuperadores de mergulho. Use os recuperadores para ajustar o comportamento de sua Litespeed.

Primeiro você deve fazer a asa enroscar bem (o que é sutil e difícil), para só depois regular a tirada usando os recuperadores (você ganha bastante alavanca ao ajustar os recuperadores). Repita até ficar satisfeito (ou a temporada de vôo acabar).

Quando você fizer um ajuste, procure só mudar uma coisa entre cada vôo. Isto o ajudará a identificar exatamente o que fez a diferença, além de ser mais seguro também.

Outra sugestão é evitar regulagens extremas, no sentido de que você não deve usar todo o potencial de ajuste de um item isolado. Ao invés disso, tente ficar razoavelmente próximo à faixa intermediária do ajuste disponível (por exemplo: em vez de ajustar o anel excêntrico da ponta na rotação máxima - 90 graus - tente fazer algum outro ajuste no anel excêntrico intermediário). Freqüentemente trazer uma regulagem ao seu extremo pode causar efeitos negativos e imprevisíveis; os efeitos mencionados na Matriz de Regulagem são baseados em que a asa esteja, inicialmente, aproximadamente na sua configuração padrão.

A Verificação de Simetria

Este capítulo fornece algumas dicas sobre como verificar a simetria de sua asa. Ter uma asa simétrica é um bom ponto de partida para qualquer atividade de regulagem. Escolha uma superfície plana num lugar sem vento. Reserve pelo menos 2 horas para fazer esta verificação.

1) Antes de montar completamente sua asa, verifique as coisas óbvias:

- Talas de acordo com o gabarito

- Tubos livres de mossas ou dobras

- Talas de ponta de fibra de vidro razoavelmente retas

- Anéis excêntricos na mesma regulagem nos dois os lados (tanto os anéis intermediários como os da ponta)

2) Monte a asa, mas deixe os recuperadores para fora, puxe totalmente a marcha e mova a parte central da vela de maneira a que esta descanse exatamente sobe a quilha e então verifique:

- Olhando a partir do nariz, verifique se as pontas das asas estão com a mesma elevação dos lados direito e esquerdo. Caso não estejam experimente adicionar tensão no bordo de ataque do lado onde a ponta estiver mais baixa. (dica: há uma pequena peça plástica ajustável no conjunto da alavanca de tensionamento da tala de ponta.).

- Olhando a partir da quilha (levante a asa e apóie a ponta da quilha contra seu peito, mova apenas sua cabeça) verifique se a vela está identicamente assentada em ambos os lados.

3) Coloque os recuperadores no lugar e novamente cace toda a marcha e ajeite a seção central da vela para que esta se apóie exatamente sobre a quilha.

- Certifique-se de que as abas internas da vela têm o mesmo comprimento dos dois lados (estas abas são as tiras de tecido presas com velcro existentes entre as superfícies internas do extradorso e intradorso da vela).

- Verifique se os zíperes de cisalhamento de tecido estão fechados de maneira igual dos dois lados (estes zíperes são semelhantes às abas, mas têm o comprimento total da vela; neles há uma marca que tem que estar alinhada identicamente no extradorso e no intradorso).

- Verifique as alturas (ângulos) dos recuperadores, conforme está descrito no manual da asa.

- Verifique a simetria dos recuperadores entre lado esquerdo e direito, há uma maneira eficiente de fazer isso:

1) Tire os recuperadores internos para fora da vela, deixando os recuperadores externos montados. Cace totalmente a marcha. Confirme, olhando a partir do bico da asa, que a vela está igualmente levantada dos dois lados.

2) Recoloque os recuperadores internos montados e retire agora os recuperadores externos. Cace totalmente a marcha. Confirme, olhando a partir do bico da asa, que a vela está igualmente levantada dos dois lados.

3) Faça uma segunda verificação recolocando todos os recuperadores no lugar fechando os zíperes e caçando totalmente a marcha. Apóie a ponta da quilha contra seu peito e ajuste a altura da quilha de forma a que, a partir de seu ponto de vista, a ponta da tala 1 do lado esquerdo esteja exatamente alinhada com a superfície de baixo do bordo de ataque esquerdo. Neste momento vire sua cabeça para o lado direito e confirme se a ponta da tala 1 do lado direito está também alinhada com a superfície de baixo do bordo de ataque direito. Repita esta verificação para todas as talas. Dica: se você perceber que está tendo que contar as talas para ter certeza de que está olhando a tala certa dos dois lados, então isto quer dizer que, provavelmente, sua asa não está simétrica.

- Novamente verifique a altura dos recuperadores (ângulo), conforme descrito no manual da asa.

Anéis Concêntricos

Na Matriz de Regulagem há muita conversa sobre os anéis concêntricos. Confuso? Este capítulo é orientado para tentar esclarecer isto.

A Litespeed é equipada com 4 anéis concêntricos ajustáveis, 2 de cada lado. O anel concêntrico da ponta está localizado na ponta final do bordo de ataque, bem no ponto onde se insere a tala de ponta de fibra de vidro. O anel concêntrico intermediário está localizado bem no limite da junção entre o bordo de ataque e o cross-bar.

A figura abaixo mostra a asa com todos os anéis concêntricos na regulagem neutra:



A próxima figura mostra uma asa na qual os anéis concêntricos da ponta foram rotacionados ao máximo, e os anéis concêntricos intermediários foram rotacionados 10 ou 15 mm (algumas asas são entregues com esta regulagem de fábrica, e alguns pilotos preferem esta regulagem por sua resposta rápida):



A última figura mostra uma asa na qual os anéis concêntricos da ponta estão a 45 graus e os anéis concêntricos intermediários estão rotacionados para baixo 10 ou 15 mm (algumas pessoas acham esta uma boa regulagem para térmicas):



Note como a manipulação dos anéis concêntricos afeta o formato em “V” da asa. Esta é uma das possíveis explicações para o porquê de os anéis concêntricos poderem ser usados para personalizar a intensidade de high-siding necessária. Além disso, mudar os anéis concêntricos intermediários afetará o valor medido para o ângulo do recuperador de mergulho externo. Preste atenção nisto.

Conhecimento Adquirido

- levantadas súbitas de nariz em altas velocidades, com marcha toda caçada, ao entrar em rajadas (térmicas), podem ser consertadas através do abaixamento dos recuperadores externos, de forma a que a ponta da asa, o recuperador externo, o recuperador interno e a quilha estejam aproximadamente alinhados. Levantar os recuperadores externos causará tendência a levantar o nariz enquanto que abaixá-los causará a tendência inversa, ou seja, abaixar o nariz (mergulhar).

- rebaixar os recuperadores externos melhora a maneabilidade uma vez que eles limitam menos o movimento da vela. Esta ação também reduz o panejamento (vibração do bordo de fuga com o efeito do vento) até certo ponto.

- Se a asa voa em linha reta e ambos os anéis concêntricos da ponta estão rotacionados para cima, a asa necessitará de menos high-siding. Se estiverem rotacionados para baixo a asa necessitará de mais high-siding.

- Ao ajustar os anéis concêntricos intermediários obtemos um efeito similar ao mencionado no item acima, mas com uma sensação diferente.

- Se uma asa tem tendência a virar em uma direção, isto se dá frequentemente porque o anel concêntrico de ponta do lado oposto deveria ser rotacionado para cima de forma a contrabalançar a tendida (rotacionar para cima o anel concêntrico de ponta do lado oposto pode ser visto como um “contrapeso aerodinâmico”).

- Para melhor ganhar altura, a asa deve ser regulada de forma a que ela enrosque melhor nas térmicas com 1/3 da marcha caçada (isto é, a asa voará lenta demais com a marcha solta).

- Reforços no bordo de ataque são úteis nos 4 painéis internos (próximos ao nariz). Eles fornecerão uma pressão de barra mais sólida em altas velocidades uma vez que o bordo de ataque se deforma menos. Mas é duvidoso se usar Mylar compensará o aumento de peso; carbono deve ser usado preferencialmente (os reforços de bordo de ataque de carbono estão disponíveis na Moyes).

- Geralmente mais tensão no bordo de ataque fornece melhor maneabilidade e mais performance, porém também maior panejamento. Excesso de tensão no bordo de ataque faz com que as pontas da asa se levantem, reduzindo assim a performance.

- Menos reflexo* (“reflex”) na seção central fornece melhor razão de subida e melhor planeio em baixas velocidades, mas muito menos pressão na barra. Evite isto.


*Reflex, ou “reflexo” numa tradução livre, é o termo que descreve a angulação para cima da parte final das talas transversais mais próximas à seção central da vela (nas Litespeed apenas as talas 1, 2, 3 e 4 apresentam reflexo). O reflexo é um dos parâmetros de projeto que afetam a estabilidade do aerofólio.

1 comment:

Octavio Fiães said...

Fantástico Fabiano!
Sua ajuda traduzindo os manuais tem sido enorme para todos os voadores, parabéns.
Continue assim, um grande abraço,
Octavio.