Thursday, November 12, 2009

Uma leitura equivocada da condição

Era um dia que tinha todas as condições propícias para o vôo. A massa de ar seco que cobria a cidade há quase uma semana não dava mostras de querer ir embora e continuava provocando condições estratosféricas todos os dias. Era fácil apostar que na hora mais quente a temperatura atingiria 38 graus, transformando a baixada fluminense num imenso caldeirão. Sendo assim, não houve jeito, tiramos a 6a-feira para apostar na rampa de Petrópolis!

No caminho os planos maldosos não conseguiam mais ser disfarçados: com aquela altura de base de nuvem que já víamos se formando às 11 da manhã - 10 da manhã do horário do sol - não parecia haver dúvidas de que uma travessia Petrópolis - Rio estava dentro das possibilidades!

Ao chegar na rampa tudo era promissor, as formações, um leve vento Norte-Noroeste que não chegava a atrapalhar a decolagem, pois os ciclos eram suaves, possibilitando que o vento entrasse ocasionalmente de frente, na rampa de grama.

A primeira leva de pilotos a decolar foi: Geraldo Nobre, Sadia, eu e Glauco. Todos nós nos encaixamos confortavelmente numa térmica forte e lisa que nos levou a 2.000 mts na base das nuvens! Tudo tão rapidamente que parecia que o voo seria moleza!

Nesta foto a cidade de Petrópolis formando um belo pano de fundo para a térmica mais lisa que já peguei naquela região:



Quando cheguei na base da nuvem, fui tirando para a frente da cordilheira procurando não entubar, e optei por seguir diretamente na direção da ponta do Tinguá, voando à esquerda da barbatana da serra. Na próxima foto, abandonando a térmica bem próximo à base da nuvem:



Naquele momento percebi alguns sinais importantes. Uma asa de extra-dorso branco que havia tirado por cima da BR na direção do pedágio estava ficando baixa. Imaginei que o piloto tivesse voado muito à esquerda, e reparei que as fumaças no fundo do vale, que antes se mostravam quase verticais, começavam a correr de Leste.

Presumi então que o melhor caminho seria ao longo da cordilheira, pela direita, o lado de barlavento da serra, aproveitando o lift que deveria estar sendo gerado pela brisa de leste. O vento, além de prover sustentação, poderia engatilhar as térmicas do caminho e fazê-las subir pela parede da cordilheira. Eu estava olhando para o seguinte cenário:



Na verdade a primeira térmica tinha sido tão boa e tão definida que eu não estava nem um pouco preocupado com a perspectiva de não encontrar outras no caminho. A serra estava formada e, para tudo parecer ainda mais perfeito, um longo cloud street ligava a ponta do Tinguá à Serra de Madureira (Nova Iguaçu). Pela razão de planeio que eu vinha mantendo, imaginei que chegaria com folga, diretamente abaixo do cloud-street. Além disso eu tinha a certeza absoluta de que debaixo daquele céu formado, logo ali ao lado da serra, eu encontraria alguma térmica no caminho!

Nesta próxima foto podemos ver o famigerado e ultimamente inatingível, ao menos para este que aqui escreve, cloud-street. Levemente alinhado de Noroeste-Sudeste e derivando de Oeste para Leste. Meu plano parecia estar funcionando: as nuvens se encontrariam comigo assim que eu atingisse a ponta do Tinguá:



Vista de cima, acho que a situação era mais ou menos essa:



Acho que se o vento entrando de Leste realmente fosse uma massa de ar digna de ser chamada de "frente de brisa marinha" a situação tridimensional deveria ser algo como mostra a figura abaixo. O problema é que eu não imaginava que a massa de ar frio fosse preencher o vale tão rapidamente. Enquanto eu tirava na direção do cloud-street fui rapidamente envolvido pelo ar estável, de onde ninguém mais conseguiria sair naquele dia. De fato os pilotos que deixaram para decolar 15 minutos depois da primeira leva, depois de terem que esperar muito tempo até que entrasse um ciclo de vento frontal, mal conseguiram superar os 1.300 mts, mesmo na termal poderosa da rampa.



Relativamente alheio ao fato de ter entrado numa massa de ar da qual não dava para sair, eu ia caprichando no planeio à frente! Na próxima foto a asa com a marcha toda esticada, e minha posição toda encolhida. Eu tirava para baixo do cloud-street com a certeza de que teria altura para chegar abaixo das nuvens formadas entre o Tinguá e Nova Iguaçu. Meu planeio estava realmente excelente e consegui chegar embaixo destas formações ainda a 700 metros do solo. Continuei tirando por baixo do cloud-street esperando ansiosamente o pio do variômetro, mas nada acontecia. E nada. E mais nada. Resultado: final prematuro do voo...

O Glauco, que me seguiu neste planeio, provavelmente incentivado por minha firmeza em tirar reto para a frente, deve ter tentado manter-se próximo a mim, porém perdeu mais altura do que eu. Se eu pudesse tentar adivinhar o motivo de eu ter chegado ao final do planeio cerca de 200 mts mais alto do que o Glauco, eu diria que é porque eu sou 10Kg mais pesado, e para conseguir andar na mesma velocidade que a minha, ele tem que acelerar acima da velocidade de melhor planeio de seu conjunto asa-piloto.

Um piloto mais pesado sempre vai planar mais rápido do que um mais leve, considerando equipamentos semelhantes, assim, mesmo que a razão de planeio seja a mesma, o mais pesado chega antes. É bom ter isso em mente quando tentar seguir um piloto mais pesado do que você! Meu planeio foi de 15:1 e de fato foi suficiente para chegar embaixo das lindas formações. Reparem nas sombras das nuvens enormes que estavam acima de minha asa. Pena que a diversão estivesse 1 Km a Oeste dali.



Quando soube que o Geraldo tinha feito um voozaço-aço-aço, vindo quase até a Barra da Tijuca e voltado para Petrópolis, fiquei curioso para ver a rota que ele havia escolhido. E de fato, se observarmos as trilhas minha e do Geraldo veremos que ele, por ter escolhido uma rota um pouco mais a Oeste, se manteve dentro da massa de ar instável o tempo todo. Na verdade eu diria até que ele conseguiu surfar a borda da frente de brisa marinha, que inclusive favoreceu mais ainda a condição de Norte-Noroeste na camada de cima. Uma pequena diferença de cerca de 1 Km para a direita ou a esquerda fez toda a diferença neste voo. Outro fator que favoreceu a decisão dele foi o sol da tarde, que foi progressivamente aquecendo cada vez mais as faces Oeste da cordilheira. Quando ele chegou no Tinguá, pegou o cloud-street pelo lado Oeste enquanto que eu afundava sem parar do lado Leste, muito próximo em distância, mas muito, muito longe em termos de energia. Esta figura mostra minha trilha em vermelho e a trilha do Geraldo predominantemente em azul.



Parabéns para o grande Geraldo, um dos melhores analistas de condição deste esporte, em nível mundial, ainda mais em Petrópolis, seu quintal de casa! Mas a lição foi aprendida: fumaça entrando de Leste em Petrópolis requer precaução e caso se entre na camada estável não adianta nem tirar para a frente que vai acabar pousando na roubada. Na foto abaixo eu faço exatamente isto! Ainda sem acreditar que o voo estava acabando ali eu me preparo para fazer um pouso e resolvo usar o arrasto para tirar um pouco de planeio da asa, pois o vento estava muito indefinido. Arremessei o arrasto a baixa altura e não sei se ele chegou a abrir totalmente ou se ficou como aparece na foto.



Tudo o mais considerado, foi um voo de grande aprendizado!!

Sunday, August 02, 2009

Cristo - Barra uma emocionante Fotonovela de Asa-delta

Esta é uma sequência de fotos - em estilo fotonovela! - tiradas no dia 8 de Junho de 2009, uma 2a-feira que amanheceu brilhando, primeiro dia de sol depois da frente-fria.

O único problema foi que eu regulei mal o ângulo da câmera que estava fixada na ponta da asa e isto deixou as fotos muito tortas, a ponto de não valer nem a pena endireitar com programa de edição pois perde-se muita área da foto no processo.

Desde cedo o céu azul com formação de nuvens sobre as cordilheiras mais altas já indicava um dia de farofa, e a condição não desapontou: pressão alta, temperatura fria, teto alto e vento de Norte-Nordeste na camada de cima. Na rampa lotada de asas, os ciclos eram consistentes, mas todos esperavam a melhor hora. Moikano iniciou os trabalhos decolando e subindo com suavidade até a base de um cúmulus a uns 1.200 metros asl. Já o Paulinho Cabeleira decolou em seguida e desperdiçando a indicação do Moikano, seguiu reto e perdeu tudo até ficar bem baixo no rotor do 2 Irmãos. Isso deixou os pilotos na rampa um pouco indecisos. Já não dava nem mais para enxergar o Cabeleira quando com muita habilidade ele se levantou e voltou para o voo, ralando muito logo na largada!

O Paulinho tinha pego um ciclo ruim, mas não havia dúvidas que o dia estava excelente então eu não quis esperar muito e, após o cansativo trabalho de manobrar minha asa até chegar na rampa, com tantas asas montadas no caminho, fiquei satisfeito ao ver que os pilotos mais experientes estavam se engatando em suas asas!

Já decolei ganhando! O nível da rampa e arredores estava muito trafegado, e progressivamente fui subindo e me afastando da muvuca. O voo foi bastante intenso e divertido, em alguns momentos trabalhado e também relativamente fácil, pois as térmicas estavam onde deviam estar. Bem... quase todas...

Quem deixou para decolar muito tempo depois dessa primeira leva, não conseguiu mais ir aos 1.200 metros onde a condição estava muito melhor, mas mesmo assim fizeram um vôo excelente até o Cristo, sempre ralando um pouco mais baixo, como é possível perceber ao fundo de algumas fotos.

O tracklog e informações do vôo estão em:

http://www.xcbrasil.org/leonardo/flight/16303

Segue a historinha!





















































Wednesday, May 27, 2009

Pico Agudo - taking off above the layer

The 3rd Stage of the Paulista Hang-Gliding Cup 2009, was scheduled for the weekend of May 22nd, 23rd and 24th. The organizers wanted many FAI registered pilots to attend in order to obtain the status of FAI event for this stage. The main reason was to validate the 2009 World Hang Gliding Championship participation of São Paulo pilot Michel Louzada and Rio de Janeiro pilot José Guilherme Lopes Lessa, since attending a FAI event was a requirement which both pilots hadn´t yet met this year.

Anyway, the spot was the Pico Agudo ramp - http://www.guia4ventos.com.br/det_rampa.php?id=39 - on the city of Santo Antônio do Pinhal - http://www.santoantoniopinhal.com.br/ - on the State of São Paulo. It´s also not too far away from Rio, only a 5 hour drive. This city sits very near the well know city of Campos do Jordão - http://www.camposdojordao.com.br/ - with only 15 Km separating the two.

Campos is a major weekend destination of the wealthy paulistans and not without a good reason: with both cities sitting above 1600mts asl, the weather is very cool, and makes for a alpine scene of sorts for us heat-stuck brazilians. Temperature at nightime was only 5 degrees Celsius which called for pasta, wine, fondues. Nice!

The weather was bright and one should expect good flying conditions, but I soon learned that this particular spot on the Mantiqueira range, is not very consistent, I wonder why that is, since it is actually pretty close to wonderful flying sites like the Pico do Gavião, in Andradas - http://www.guia4ventos.com.br/det_rampa.php?id=69 ; Atibaia - http://www.guia4ventos.com.br/det_rampa.php?id=27; etc.

On Friday morning, the first day, the condition looked very nice, but once we drove to the top of launch, we discovered that the ceiling, on the direction of flight, was very low, much below take off... Looking towards the interior though, conditions seemed much nicer, with a higher base and a drier look.

I wonder why the Pico Agudo ramp doesn´t share this inland condition with its neighbouring launches. Maybe influence of the sea? But its still a long ways from shore, maybe 80Km or so. On the good days though, specially when the North wind brings the inland conditions all the way to Pico Agudo and beyond, really great flights can be made, like flying all the way to the coast. Local Marcelo Menin once flew all the way to Ilha Bela and back to the mainland, a flight well above 120Km!

The track log for this flight is at: http://www.xcbrasil.org/leonardo/flight/15864


Anyway, I made a little movie of the launch on Friday. The interesting point is that we were launching above the ceiling, waiting for the cycles to clear so as to allow take-offs, and then gliding down to the thermic layer below. The lift was weak and the task was called for only 33Km, and even then no pilot was able to make goal. I finished 8th having been able to make the first turnpoint, not without a lot of struggle. Landed at the official LZ. It was to be my only flight there this weekend, since some family issues forced me to go back to Rio on the next day.


Tuesday, April 28, 2009

Friday, April 17, 2009

The Rio de Janeiro Scene - 3

After a near two month flying hyatus, caused by my accident on the beggining of March, I finally took to the air again today. It was a beautiful post-frontal day in Rio, and the wind was coming from the Southwestern quadrant. The conditions looked great but in fact weren´t so for quite a while.

The early birds were greeted with a lot of work to stay up and only the best pilots, who were also patient, were rewarded with great flights. In seeing their struggle I decided to wait for a better window.

The problem was that I waited a lot, but not long enough. My flight was really hard to keep up, I fought for 40 minutes getting progressively lower.
About one hour after my take-off, when I had already landed, conditions finally, and suddenly too, improved a lot, and the guys who were still waiting had better flights with many of them visiting the Christ.

I was just really glad for being back on the air again! And I was very happy too for using succesfully my new camera mount on the leading edge, which rewarded me with many many great pics!
Some of them are below:

 

 

 

 
Posted by Picasa